Diz-se que é a nossa principal indústria – o motor de desenvolvimento do arquipélago – promete-se lhe Elevado Valor Acrescentado (EVA), entretanto atribui-se a ele uma reduzida atenção/verba: “apenas 0.8% no orçamento de 2009, que financiou os seguintes projectos: um observatório do turismo, um sistema de informação para a recolha de dados sobre os estabelecimentos e as actividades, o desenvolvimento de uma marca turística para o país, bem como outras iniciativas para diversificar e melhorar o turismo”, conforme o último relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Será possível fazer tudo isso com tão diminuto orçamento, a ponto de se atingir EVA ? Eis a questão !?!
Na sua recente entrevista [diga-se, uma dos melhores que já li sobre este sector nos últimos anos], o jóvem Director Geral do Turismo, Carlos Pires Ferreira, prometeu, entre outros :
*Um turismo sustentável e de alto valor acrescentado, com o envolvimento das comunidades locais, quer no processo produtivo, quer também no acesso aos benefícios;
*Um turismo que deverá ter em conta as dez ilhas de Cabo Verde, ou seja, aproveitar ao máximo as potencialidades de cada recurso e transformá-los em produtos de excelência e autênticos, numa complementaridade entre elas, ressaltando as riquezas de cada uma;
*Agregar ao “sol e praia” outras valências, tais como a indústria M.I.C.E., o turismo rural e de natureza, o ecoturismo, o turismo cultural, entre outros, diversificando a oferta, por forma a inentivar maior procura, e sobretudo de qualidade, satisfazendo as aspirações de "clientes" cada vez mais exigentes e interessados em conhecer o "Cabo Verde profundo".
Os três pontos acima elencados parece-nos resumir de forma objectiva os ideais daquele responsável pelo turismo em CV.
Relativamente ao primeiro ponto, queria apenas mencionar que, se o turismo representa cerca de 20% do PIB, a atribuição de apenas 0.8% do bolo orçamental para o sector não é razoável...nem se consegue vislumbrar como se consegue com escassos recursos alcançar o EVA que muito se almeja para o nosso turismo...
Quanto ao segundo ponto, nota-se um convergir de ideias, com o que vem sendo defendido pela sociedade civil nas ilhas ‘ditas abandonadas’: Fogo, Santo Antão, São Nicolau e Brava, onde muito pouco tem sido feito para a promoção do turismo e atracção de Investimento Directo Estrangeiro (IDE), apesar das vastas potencialidades existentes. Reconhecemos a boa vontade do actual executivo, mas é preciso, despir a camisola político-partidária e dizer aquilo que vem escrito no relatório do FMI : “embora o país tenha feito progressos em termos de expansão de estradas e portos, de transporte e distribuição de electricidade, o principal obstáculo para o desenvolvimento da sua economia é a má qualidade das infra-estruturas de uma ilha para outra e, em cada ilha”, principalmente, nas quatro acima apontadas.
No que se refere ao terceiro ponto, revemo-nos nas ideias do DGT, aliás, em tempos já tinhamos escrito algo nesse fio de pensamento, afirmando que CV precisa diversificar/melhorar a sua oferta turistica e pôr fim a esse olhar enviesado que é atribuido a certas ilhas. Entretanto e, como ao que parece, o governo decidiu-se associar a essa oferta turística algo novo – a tal indústria MICE (Meetings, Incentives, Conferences and Exhibitions) – ou seja, um acrônimo para a organização de – Reuniões, Incentivos, Conferências e Exposições. Os terrmos são de fácil entendimento, talvez, com a excepção dos ‘Incentivos’. Pois, o turismo de incentivo é geralmente uma espécie de recompensa que se atribui a um empregado/funcionário da empresa ou instituição pelas metas alcançadas [ou ultrapassadas], ou por um trabalho exemplar que desenvolveu, com o fim último de incentivar as viagens.
A indústria MICE é conhecida por sua extensa programação e exigente clientela e, segundo estimativas, um viajante MICE gasta cerca de 3 vezes mais do que um viajante de lazer regular. MICE por envolver várias vertentes, incluindo infraestruturas de convenção e exibição, serviços de viagens, de alojamento e transportes, de tradução/interpretação, organização de eventos, restauração, marketing, relações públicas, entretenimento, etc., poderá trazer enormes benefícios económicos ao país, contribuindo para o combate ao desemprego, mas será que já fazemos os necessários TPC ?
Estamos realmente preparados para competir com destinos já experimentados nessa matéria, dos quais temos que destacar: Singapura, Paris, Bruxelas, Viena, Barcelona, Tóquio, Seoul, Budapest, Copenhagen, London [os 10 principias receptores de reuniões internacionais] ?
Mesmo a nível da nossa subregião, será que somos competitivos ?
Onde estão as infraestruturas, particularmente na nossa capital ?
A título de exemplo, segue uma breve resenha de Macau (podia perfeitamente falar de Hong Kong, Singapura, Tailândia ou Japão), uma terrinha [hoje com os seus cerca de 29,5 km2, inicialmente com apenas 16 km2] que desde o Século XVI recebe viajantes e negociantes do Oriente e do Ocidente, transformando-se numa das portas de entrada para a China e que, há poucos anos decidiu enveredar pela indústria MICE.
Desde a transferência da soberania à República Popular da China em 1999, o governo local vem realizando importantes reformas a nivel das infraestruturas básicas e vem promovendo, para além do turismo cultural, assente no seu legado histórico [de matriz portuguesa e chinesa] e que, foi considerado Património Mundial da UNESCO em 2005, onde se destacam: igrejas, fortalezas, templos budistas, museus e diversos festivais de gastronomia e de música acrescido de actividades turísticas e desportivas de nível mundial: o Grande Prémio de Macau, a Maratona Internacional de Macau, o Concurso Internacional de Fogo de Artifício, a Feira Internacional de Macau, a Feira Internacional de Arte de Macau, o Festival da Lusofonia, por um lado, bem como modernos hotéis casinos, que servem não só para os jogos, uma vertente em que Macau é já líder mundial, mas também de suporte para a indústria MICE, por outro.
A região conta hoje com insfraestruturas invejáveis para o o desenvolvimento dos MICE. A maior delas está situada no Venetian Resort, composta por um pavilhão com capacidade para 15.000 lugares, um complexo com 25.000 m2 de área para reuniões e uma galeria para exposições com 74.682 m2 de superfície.
Além desta existe ainda outras importantes infraestruturas de suporte à industria MICE no território, p.f. ver :
*Centros de Conferências e Exposições(http://industry.macautourism.gov.mo/pt/page/content.php?page_id=72)
*Hotéis com infra-estruturas(http://www.macautourism.gov.mo/pt/meeting/facilitiesdetail.php?type=46)
*Outros locais de encontro (http://www.macautourism.gov.mo/pt/meeting/facilitiesdetail.php?type=47
Este conjunto de infraestruturas faz de Macau um dos maiores detentores de espaço para convenções e exposições de toda a Ásia. Outrossim, a estabilidade social, o melhoramento das condições de segurança após o retorno de Macau à China, a optimização constante das infraestruturas de transportes terrestres [(público e privado vários), marítimos (3 três terminais de nível superior) e aéreos (1 aeroporto internacional e 1 heliporto) que permitem ligação rápida da cidade ao mundo] e a captação de oportunidades pelos serviços públicos do turismo para a promoção de Macau na China continental e nas diversas feiras e exposições mundiais, para além de atrairem turistas a viajarem para Macau têm tido um efeito indutor para o desenvolvimento dos MICE.
Quanto às estatisticas do sector das convenções e exposições em Macau deixo ao leitor o link seguinte:
http://www.dsec.gov.mo/getAttachment/a7f95aef-0066-4393-bb8bc208dd2e30ae/P_ESCE_FR_2010_Q1.aspx
Para finalizar, queria tão somente lembrar que MICE é uma indústria de futuro, cujas características são essencialmente: alto/elevado/superior, no que ao valor/potencialidades/emprego/articulação/qualidade/ambiente, se refere, pelo que, perguntamos, que indústria MICE para Cabo Verde ? Quais as estratégias ? Que vantagens ? Onde estão os recursos financeiros e humanos ? É mais uma questão de discursos ou será mesmo o EVA que se quer para o nosso turismo ?
Maio de 2010
No comments:
Post a Comment