Wednesday, December 22, 2010

Dúvidas sobre a austeridade, Bono e uma cultura de cortes

O Financial Times é o meu jornal preferido, sendo a secção de analysis o foco das minhas atenções, entretanto, às vezes entre o esfolhear das páginas encontro mais alguns artigos interessantes. Interessantes porque, por um lado, me fazem lembrar da minha infância, minhas vivências, ku plástico txapadu, suor na testa, pé na txon, na caminho de Cova Figueira ou de São Filipe e, porque retratam temas actuais, de forma clara e inteligente, por outro.

Hoje, foi um daqueles dias em que encontrei uns escritos de Michael Holman, ex-editor do Financial Times em África, sob o título “Yours baffled, on Austerity, Bono and a culture of cuts” qualquer coisa como «Dúvidas sobre a austeridade, Bono e uma cultura de cortes»!

O artigo relata uma correspondência entre o pai e o filho, estando este a estudar em Londres e aquele em África...

Eis ela...

Querido pai,

Cumprimentos de Londres, onde todos estão falando sobre "cortes". À semelhança dos momentos em que o pai lutava com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Lembre-se daquele dia, quando dois rapazes chegaram ao seu escritório? Tinha sido a primeira visita dos dois à África. Eles eram espertos. Um trabalhava para o Banco, o outro para o Fundo. Na altura o pai era Secretário Permanente para a Educação. Eles queriam falar de cortes: nos serviços público, na saúde, na educação, em empresas estatais, em todos os lugares, só se ouvia “cortes”. Lembro que naquela noite o pai voltou à casa muito irritado.

"Esses garotos espertos com os seus programas de ajustamento estrutural, vão tornar a vida muito difícil, eles vão destruir uma geração", disseste para a mãe durante o jantar.

Aqui em Inglaterra, existe a mesma conversa, as mesmas palavras, mesmas ideias.

"E possivelmente os mesmos resultados, disse o primo Didymus. O nosso amigo Inglês, Anthony, que quer ir para a universidade, não riu.

"Não é engraçado", disse ele.

Graças a Deus, o FMI e o BM já não nos incomoda tanto em África como costumavam. Em vez disso, estão a observar a Irlanda - exactamente tal como costumavam nos ver, sentados nos respectivos escritórios, próximo ao do Governador do Banco Central.

Quem, por sinal, está na delegação da União Africana, que vai aconselhar os Irlandeses sobre "direito à propriedade, participação popular e consultoria"? Ouvi dizer que eles se reunirão com o Bono, que vai levar supermodelos, estrelas da música pop e locutores da BBC, que irão fazer um apelo à "Redução da Dívida da Irlanda".

Anthony disse-me que, haverá transporte aéreo para Dublin para os especialistas em ajuda, consultores em desenvolvimento e até especialistas transversais.

Ele disse que talvez juntar-se-á a eles, e depois fará o ano pré-universitário na Irlanda.

Na última carta para mim, minha irmã e meu irmão pediram para explicar-lhes acerca desses cortes na Inglaterra. Eu vou tentar. Algumas coisas eu sei que eles não vão acreditar, mas são verdadeiras. Outras coisas são muito difíceis de explicar, e eu mesmo ainda estou aprendendo. Quando perguntei ao professor de sociologia para explicar as coisas, ele respondeu que "a pobreza é relativa". Isso significa... bem, eu não tenho certeza.

Mas, muita coisa aconteceu desde que eu saí de casa e vim estudar aqui. Está a custar mais do que pensávamos. Mas eu tenho sorte. Muita sorte. Tenho um trabalho no McDonald's. Eles me pagam o salário mínimo, £6 por hora. Alguns dos meus amigos Ingleses chamam isso de salário de "lixo". Eu acho que é por isso que poucos alunos Ingleses estão trabalhando no McDonald's.

Disse-lhes que, num único fim de semana, a trabalhar horas extras, ganho o que o meu irmão mais novo recebe como segurança, por um ano. Anthony está pedindo aos seus pais e amigos para patrociná-lo ou ajudar-lhe a angariar dinheiro para seu "ano de voluntariado". Isso significa que ele quer que eles o ajudem a comprar o seu bilhete para a África. Ele diz que irá ao nosso país e ajudará as pessoas que vivem em favelas. Isso seria "brilhante", ele me informou.

Agora, deixe-me falar sobre "cortes". As pessoas têm muito medo de cortes, especialmente "cortes selvagens", que virão em breve. Todos os dias eles estão chorando. Ouvi com muita atenção.

Estas são algumas das coisas que eu pude perceber. Esta parte da carta, a família e o pai podem não acreditar. Mas eu vos garanto é pura verdade.

Em primeiro lugar, neste país, o governo paga as pessoas para ter filhos. Mil libras! Sim, eu sei - que é a renda média do nosso povo!

Mil! Para cada criança. A cada ano. Até os 18 anos.

Didymus disse para não dizer isso ao tio Tangwenya. Ele já é pai de sete. Se alguém lhe prometer dinheiro para fazer filhos, ele viria para Londres e, nenhuma mulher estaria salva, diz ele.

Estes abonos de família em breve serão cortados, diz o governo. Para mim, são águas passadas, mas para os pais é muito preocupante.

Minha irmã Patience, perguntou se era verdade que as crianças na Inglaterra não precisam de andar até a escola. Ela tem razão. Se a criança vive mais de três milhas da escola, o município deve fornecer transporte. Mesmo se for táxi! Sim, é a lei.

Mas há um grande receio que as cortes poderiam acabar com isso. Outras coisas podem ser cortadas. Os filhos do meu vizinho são muito preguiçosos, e estão dormindo, quando deveriam estar na escola. Sim! Dormir! Ainda que tenham uma boa faculdade com livros e professores, e salas de aula com janelas, com vidro e tudo.

E se chegarem todos os dias a tempo, eles são pagos! Sim! Vinte libras por semana. Só para chegar ao seu colégio a tempo. Eles o chamam de "subsídio de manutenção da educação".

Da próxima vez vou falar mais sobre essa questão de "cortes" - embora o pai não vai acreditar na maioria das coisas. No nosso país, quando você é demitido, pode morrer de fome. Aqui, nunca. Nunca! Há "indemnizações", "prestações de desemprego"e acções de formação.

Tenho que terminar, senão chegarei atrasado ao trabalho. Didymus disse-me para perguntar ao professor de sociologia: “Se é relativa a fome, assim como dizem que a pobreza é relativa?” "Engraçado, deve perguntar, porque esse é o tema do teu próximo ensaio". Deves entregá-lo para mim na terça-feira, acrescentou ele".

Didymus reiterou ainda que, eu devia escrever sobre o que disse Kenneth Kaunda – após anos de cortes na Zâmbia. “O medicamento foi tão forte que matou o paciente”.

Anthony parecia muito interessado, tendo perguntado, "se as pessoas na Zâmbia, ainda sentiam dores".

"Sim", disse-lhe eu.
Ele parecia mais alegre: “Parece um bom lugar para o meu ano de voluntariado. Se eu não ir para a Irlanda...”

Seu querido filho.

Mais palavras p’ra quê...?

Macau, 23 de Dezembro de 2010

Tuesday, December 14, 2010

10 ESTRATÉGIAS DE MANIPULAÇÃO ATRAVÉS DA MÍDIA SEGUNDO CHOMSKY

O lingüista estadunidense Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” através da mídia:

1 – A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

2 – CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES
Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3 – A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.

4 – A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5 – DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê?”Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

6 – UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos.Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7 – MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

8 – ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE
Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…

9 – REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!

10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

Fonte: www.institutojoaogoulart.org.br
http://www.locoporti.blog.br/10-estrategias-de-manipulacao-atraves-da-midia-segundo-chomsky/

Friday, December 10, 2010

Djarfogo tem

Djarfogo tem
Burkan,
Tem
Camoca
Tem
Manecon
Tem
Cafe
Tem
Fijon
Tem
Poetas
Tem
Sobrados
Tem
Homis raskon
Tem
Mudjes janotas
Djarfogo tem
Kel ki bu pode imagina!

Wednesday, October 6, 2010

BATUQUE

Nho Duque, Marquês de Pombâl,
Pé na tchon, cabél na cabeça,
Sori gráça, dente na boca,
Ára quéda, mó na dinhêro,
Nho dâ-'n fi de cabél de nhó,
Pâ-'n manda ‘ncantada Lisboa!

Nho Duque, Marquês de Pombâl!
Tâ sombra baxo
Pé de sabola,
Tâ dêta baxo
Pé de dinhêro:
Qui dâ-'n ôro na calmã,
Qui dâ-'n coráz na balâi!

Nho Duque, Marquês de Pombâl!
Faca tchitcha, ponta margura,
Bainha quato minina noba:
Tchitcha nha Maian
Co nha Má Sameda;
Nha Bódja Corêa
Co Xinxum d’Almeda,
Pretas djaraçon de branco!

(do livro Folclore Caboverdeano, de Pedro Cardoso, Porto, 1933)
http://www.novomilenio.inf.br/idioma/20010101.htm#Cabo%20Verde

Sunday, September 26, 2010

Cova Figueira – Cidade !?!


No dia 2/9/2010, com a entrada em vigor da lei nº 77/VII/2010, que eleva à condição de cidade todas sedes dos municípios de Cabo Verde, a ilha do Fogo passou a contar com 3 cidades. De entre estas temos – São Filipe – pensada e planificada para tal, ainda pelos Portugueses, continuando porém, até a actualidade sem uma rede de esgotos – Mosteiros já com cerca de 2 décadas de municipalismo que lhe permitiu erguer algumas das infraestruturas básicas para ser cidade – enquanto que no outro extremo temos Cova Figueira — com muito pouco ou quase nada – tudo ainda por fazer — tudo urgente!

Relembremos que, a lei nº 77/VII/2010 estabelece como critérios para a elevação dos centros de concelhos a cidade possuir equipamentos relevantes como serviço de saúde, protecção civil, correios e telecomunicações, farmácia, corporação de bombeiros, estabelecimento de ensino, esquadra policial, estabelecimentos hoteleiros, bibliotecas, serviços de transporte urbano e suburbanos, entre outros. Ora em Cova Figueira, ainda escasseiam, mas será que a inexistência desse equipamentos, nos deve levar a concluir que a medida do executivo é eleitoralista como alguns o apelidam ou devemos considerá-la o aumentar da fasquia/exigências para com aqueles que estão á frente dos destinos da então vila – hoje – cidade?

Sinceramente que, nós olhamos para essa tomada de decisão como algo útil, necessário e que, deve ser acompanhado de tratamento diferenciado para tirar Cova Figueira da cauda do desenvolvimento nacional.

Quais as repercussões práticas dessa medida na qualidade de vida das populações?

Ainda não a sentimos, mas acreditamos que serão muito boas – se os eleitos autárquicos de Santa Catarina do Fogo, souberem aproveitar-se da nova conjuntura política, para exigir ao Governo central a criação de condições para fazer de Cova Figueira – uma verdadeira cidade.

Olhando para Mosteiros, a pequena cidade irmã, onde, o autarca, Fernandinho Teixeira, a 3/9, poucas horas após a entrada em vigor do decreto lei – congratulou o Governo pela elevação das sedes dos municípios a categoria de cidade e, reconheceu que é um desafio que se coloca as autoridades municipais para a qualificação dos centros urbanos, nomeadamente no concernente ao saneamento básico, a habitação, os transportes colectivos, os equipamentos urbanos de referência e da saúde pública, referindo que o município que preside começou há muito tempo a preparar-se para dar este salto, dispondo já de algumas infraestruturas “importantes” como o centro de saúde, o matadouro municipal, um estádio relvado, polidesportivos e placas em todas as localidades, bem como representações de todas as instituições públicas (será ?), aproveitando para mencionar que é por demais evidente a necessidade de criação de outras infraestruturas, como a construção de um porto moderno na Baía de Corvo, melhoramento das redes viárias, e várias outras intervenções no domínio do saneamento básico, da habitação, como condições essenciais para a consolidação da dinâmica do desenvolvimento da ilha, em geral, e dos Mosteiros, em particular, apontando o Plano Director Municipal, como um instrumento orientador que vai de encontro às necessidades da requalificação urbana da cidade dos Mosteiros.

Sem alongar – perguntamos – e para Cova Figueira – Cidade? Onde estão as infraestruturas? Quem e a quem as exigir? Quando chegarão? Quando atingirá o nível de desenvolvimento [infraestruturação] dos Mosteiros? E de São Filipe? Quando deixará Santa Catarina do Fogo de ser o município mais pobre de Cabo Verde?

No dia que isso acontecer – havemos de dizer—valeu a pena o decreto lei nº 77/VII/2010. Até lá continuaremos a sonhar!

Wednesday, August 18, 2010

O APEGO DOS FOGUENSES ÀS SUAS RAIZES, A IMAGEM DO FOGO NO CONTEXTO NACIONAL E ALGUMAS ACÇÕES NECESSÁRIAS PARA A AFIRMAÇÃO DA ILHA


Esta manhã, não sei se por motivo de saudades, amor à terra e/ou sei lá o quê, acordei pensando nas questões seguintes:

1. O apego dos Foguenses às suas raizes;
2. A imagem do Fogo no contexto nacional; e
3. Algumas acções necessárias para a afirmação da ilha do Fogo.

Em Maio de 2008, durante um jantar, em ambiente de convívio com os amigos, veio à tona, a questão do amor que os cabo-verdianos têm pela sua terra.

É certo, que os demais presentes, nacionais e estrangeiros, reiteraram que cada um, à sua maneira, tem o carinho que tem pela sua terrinha, entretanto, alguém do grupo – não cabo-verdiano, mas residente em Cabo Verde há largos anos, referiu que, os cabo-verdianos, de todas as ilhas, sem excepção, têm forte apego às suas raizes, mas, é possível vislumbrar que, os da ilha do Fogo manifestam carinho à sua ilha com maior intensidade.

Apesar de aprovar a opinião da pessoa, ainda hoje, continuo em busca das razões – quiçá alguém possa me ajudar a encontrar algumas...

Fogo, a ilha do vulcão, detentora de uma das mais belas paisagens do nosso arquipélago, terra de Pedro Cardoso [poderia ter falado de H.T. de Sousa], poeta e prosador do melhor gabarito nacional, aquele que em 1928, chamou o cabo-verdiano de neto de Portugal: “Nasci na ilha do Fogo, / Sou, pois, caboverdeano. / E disso tanto me ufano / Que por nada dera tal. / Se filho de Cabo Verde, / Assevero – fronte erguida – / Que me é honra a mais sabida / Ser neto de Portugal!” e também se proclamou: “A minha Pátria é uma montanha/Olímpica, tamanha! / De lavas rugidoras e candentes... / Na verdade, escutai! — chama-se Fogo! / Quando vier, Pátria amada, / A morte p'ra me levar, / Deixa-me a fronte cansada / Em teu seio repousar! Repouso esse que continua a ser o cemitério da várzea [ porque não São Filipe ???], ainda que o coveiro não consegue indicar com exactidão a sua campa, diz-se!

Relativamente à imagem da ilha do Fogo no contexto nacional, quero crer que ela é dúbia... pois, se por um lado, da conversa com os conhecedores da ilha, residentes e não só, ficamos com a ideia que, ela tem um vasto potencial, nos mais variados sectores, todos ainda por explorar, por outro, a ideia acerca da mesma, assenta em aspectos ligados ao baixo nível de desenvolvimento [a todos os níveis e não apenas económico], fraco dinamismo empresarial local e baixo profissionalismo das estruturas de representação.

Independentemente de procurarmos avaliar a justiça desta imagem em relação à realidade do que se vive no Fogo, convém reflectir sobre os mecanismos que conduzem à percepção que os outros têm sobre o que cada um de nós é e, quais os sinais que a ilha emite para o exterior. Esses sinais deviam evidenciar uma ilha desenvolvida, aberta ao mundo, às novas ideias, uma vez que ela possui muitos filhos emigrados, portanto que convivem diáriamente com novas culturas e novos hábitos, mas pelo contrário, mostram uma ilha, com algum dinamismo, é certo, mas ainda fechada, tradicionalista, conservadora e acima de tudo, muito pobre.

Os aspectos acima indicados leva-nos a concluir da necessidade de algumas acções que se afiguram importantes para a ilha:

1. Reconhecer que existe uma [quase] ausência de estratégia concertada para a inserção da ilha no todo nacional, numa crescente interdependência e coordenação com o poder central, por forma a que as projectos pensados para o Fogo, sejam tidos como prioritários e realizavéis em tempo oportuno;

2. Desenvolver uma segunda acção essencial: coordenar os diferentes organismos políticos, económicos, culturais, educacionais, etc.. tendo em conta o objectivo comum de promover a ilha enquanto espaço atractivo a novas iniciativas empresariais, àqueles que procuram um lugar para a sua realização profissional e familiar, aos turistas, aos decisores políticos, económicos, culturais, etc; e

3. Juntos trabalhar para a melhoria da imagem que os outros possuem da ilha. Num acto em que a capacidade empresarial dos emigrantes e descendentes da ilha é tida como uma mais-valia de que não se pode prescindir.

Thursday, July 22, 2010

CABO VERDE: OS TRANSPORTES AÉREOS E A ROUBALHEIRA DA VENDA DOS BILHETES

Os TACV Cabo Verde Airlines, criada em 1958 e detida a 100% pelo Estado caboverdeano, possuidora de uma pequena frota internacional, constituida por apenas 2 Boeings 757-200 de 210 lugares (de nome B. Leza e Emigranti).

É, desde há muito, possível viajar de e para Cabo Verde, em voos internacionais regulares, com diversos destinos na Europa (Lisboa, Las Palmas, Paris, Londres, Amsterdão, Munique, Varsóvia e Roma), África (directamente para Dakar, Banjul e Bissau e por ligações a Conakry, Freetown e Abidjan), Estados Unidos (Boston) e Brasil (Fortaleza), através da companhia aérea nacional. A TAP Portugal, aliada de sempre da TACV complementa o rol de voos diários que liga Cabo Verde a Lisboa, principalmente.

Há muitos anos que se fala na recuperação de uma derrapagem estrutural e financeira, que trouxe consigo deequilíbrios, particularmente ao nível dos efectivos e da relação dos TACV com o número de passageiros transportados. Diz-se que as suas operações internacionais são rentáveis, as linhas inter-ilhas são maioritariamente deficitárias, com excepção à que liga a ilha do Fogo, que, diga-se de passagem, é das ilhas piores servidas a nível dos transportes, tanto a nível aéreo (aeródromo de má qualidade), marítima (inexistência de embarcações e portos que dê resposta às necessidade da ilha) e terrestre (rede viária, em calçadas esburacadas que não garantem nem conforto nem seguridade).

Do número de vôos que tiveram lugar aquando da última festas de São Filipe, pode-se concluir quão mal servido está a ilha do Fogo ao nível dos transportes! Que o digam os nossos emigrantes em férias, vindos dos EUA.

Aliás, os transportes aéreos domésticos, embora se diga regulares e abrangindo todo o arquipélago (com excepção da Brava e de Santo Antão – que também já deviam dispôr dos respectivos aeródromos/aeroportos, pois os discursos furados dos nossos governantes de que não existem condições em termos de terrenos para a construção de aeroportos nas duas ilhas é uma falsidade – quem não estiver de acordo que vá dar uma vista d’olhos ao Gibraltar http://en.wikipedia.org/wiki/Gibraltar_Airport ou Hong Kong http://en.wikipedia.org/wiki/Hong_Kong_International_Airport, para observer como foram construidos os respectivos aeroportos), em que as companhias em funcionamento são os TACV-Cabo Verde Airlines, utilizando 2 aeronaves ATR-72/500 de 68 lugares e 1 ATR-42/500 de 42 lugares, e a Cabo Verde Express, empresa privada adquirida em 2007 pela portuguesa Omni (BPN). Desde Julho de 2008, que uma nova companha aérea, a Halcyon Air, tendo como accionistas privados, portugueses e caboverdeanos, iniciou actividade.

A chegada da Halcyon Air, trouxe algumas esperanças, mas com um único aparelho, ela muito dificilmente conseguirá dar respostas à procura doméstica e regional (presume-se que seja este o seu objectivo de médio prazo), mas ainda assim, parece que associada à SATA, já oferece bilhetes Lisboa/Sal/Praia/Sal/Lisboa, por volta de CVE50.000 (50 contos na língua de terra) enquanto que os líderes do mercado, TACV/TAP, praticam preços que ultrapassam os CVE90.000 (>=90 contos), preço esse que é na maioria das vezes superior ao que praticam as companhias aéreas europeias para um percurso de Hong Kong a Lisboa, em vôos que dura cerca de 15 horas, devido á distância geográfica.

Pelo que, aproveitamos através deste desabafo, para perguntar :

Até quando o pobre emigrante/estudante caboverdeano terá que carregar às costas a má gestão, os esbanjamentos da companhia nacional ?

Como é possível ter um turismo de qualidade e em fase de expansão com os preços que praticam a dupla TACV/TAP ?

Porque será que o préco de um bilhete de viagem aérea para um percurso Lisboa/Praia, que é de cerca de 3,5 horas, situa-se muito acima da média internacional para destinos a distâncias semelhantes que estão entre os 30 a 50 contos ?

Será que essa estratégia de exploração adoptada pelo conjunto TACV/TAP, não merece supervisão/prounciamento das autoridades, particularmente as caboverdeanas ? Lembremos que os nossos emigrantes totalizam quase que o dobro da população nas ilhas, e que, a sua grande maioria, não visita Cabo Verde durante as férias, pois um bilhte na TAP/TACV é o equivalente a 2 meses de salários em Lisboa, para muitos, infelizmente!

Em economia de mercado, as empresas não podem viver de subsídios eternamente, pois esses, além de contribuir para a ineficiência, representa um encargo fiscal, retira os recursos dos sectores que podiam contribuir para o crescimento da economia, e afecta a competitividade do país, num processo irresponsável, em que os nacionais pagam os impostos – o grande bolo — de onde saem os subsídios do governo, para, logo depois serem novamente sugados com a venda dos tickets, enquanto passageiros.

Chegou a hora de quem de direito começar a pensar os TACV (lembremos quantos anos já se passaram desde a prometida privatização), a abertura dos céus (open sky) de Cabo Verde às companhias de baixo custos (low costs), na esperança de que poderá ser essa a solução, para a diminuição dos preços dos bilhetes, pois, nas situações actuais, não é prazer nenhum viajar com aquele que se autodenomina/clama a si – o Prazer de Viajar Bem - nem na qualidade de patriota e muito menos na de turista.

O governo deve criar condições para que as caboverdeanas e os caboverdeanos, possam viajar noutras frotas – (T)ake (A)nother (P)lane, que não (exclusivamente) os da TAP – a bem dos 4 aeroportos internacionais, a bem do nosso turismo e acima de tudo a bem de Cabo Verde.

Julho de 2010

Monday, May 31, 2010

BREVE OLHAR SOBRE A ECONOMIA FOGUENSE

1. Descobrimento e povoamento
Inicialmente chamava-se São Filipe, tendo mais tarde mudado de nome, provavelmente, por causa do seu vulcão [ainda activo] – e do qual também ganhou o formato, sendo o topo deste –e ponto mais alto de Cabo Verde, com 2829 metros. Diz-se que a ilha foi descoberta em Maio de 1460, juntamente com Maio e Santiago, e foi a segunda do arquipélago a ser povoada, logo a seguir a Santiago, de quem dista 50 quilómetros. Alguns anos depois de ter sido descoberta, Fogo ganhou grande importância na economia cabo-verdiana. O algodão ali plantado passara a ser a moeda de troca na compra de escravos na costa africana, numa altura em que só era possível obtê-los com mercadorias originárias das ilhas, conforme a carta régia de 1466. Entretanto, devido às constantes secas que desde sempre assolaram o Fogo, muitos habitantes optaram por emigrar, especialmente entre os séculos XVIII e XIX, aproveitando da passagem dos baleeiros norte-americanos pelos portos de Cabo Verde, para viajarem para os Estados Unidos da América, onde havia forte procura de mão-de-obra.

2. Área territorial e administração local
Sendo a quarta maior ilha de Cabo Verde em termos de área territorial, Fogo tem 477 km2, albergando cerca de 40.000 habitantes. A cidade de São Filipe, conta com aproximadamente 1/5 da população da ilha que, está dividida em três municípios: São Filipe (as freguesias de São Lourenço e Nossa Senhora da Conceição), Santa Catarina do Fogo (freguesia com o mesmo nome) e Mosteiros (freguesia de Nossa Senhora da Ajuda).

3. Alguns produtos de referência : vinho e café
Entre os produtos de renome, podemos destacar o café e o vinho – antes, o tradicional “Manecom” – hoje “Chã” e “Sodade”, produzidos nas localidades de Chã das Caldeiras (Santa Catarina) e Achada Grande (Mosteiros), respectivamente, sendo a primeira, situada no sopé do vulcão, contando com cerca de 600 habitantes que, dedicam essencialmente à agricultura e à pecuária. Em Achada Grande, o cultivo de vinhas é básicamente inexistente, embora o solo aparenta ser adequado para tal, pelo que, a uva usada na produção do “Sodade” é também ela, proveniente dos arredores do pico do Fogo. O café é essencialmente proveniente dos Mosteiros—concelho a norte da ilha, com cerca de ¼ da população foguense.

4. Agricultura, pecuária e pescas – os três pilares tradicionais
Agricultura : É de se referir que, devido a curta estação das chuvas, entre os meses de Agosto a Outubro – a escassez de água, tem sido o maior constrangimento para a agricultura foguense. Porém, se costuma haver secas, que não permitem as sementeiras, também algumas foram as vezes em que ocorreu a destruição das culturas devido a chuvas torrenciais. O que não é estranho, uma vez que a situação geográfica da ilha a isso conduz. A agricultura a nível do sequeiro, baseada no empirismo dos antigos hábitos de culturas combinadas – do milho, do feijão, da abóbora, etc – e, no tradicionalismo da enxada, em culturas com padrões variados ao longo da ilha, constitui um factor de bloqueio. A nível do regadio, uma prática relativamente recente, encontramos algumas hortaliças e fruteiras, mas ainda longe de atingir a modernidade. Um outro factor restritivo é a falta de sementes de boa qualidade a baixo preço, o que influencia o resultado das colheitas. Pode-se falar ainda, da falta de infraestruturas para acomulação de águas em anos de forte pluviosidade, como outro empecilho à prática agrícola. No entanto, a agricultura continua a ser a principal actividade económica da ilha, tendo o cultivo de algodão feito história a nível nacional e na metrópole, em tempos que já lá vão. O solo e o clima da ilha eram considerados de tal modo propícios para esta cultura que, relatos da época referem que, quando regado, faziam-se 2 colheitas/ano. Este era levado para Santiago, em bruto, e ali era limpo e depois comercializado. Podia ser vendido como matéria-prima ou em forma de panos, dando surgimento à tecelagem na ilha do vulcão. Recordando isso, queria apenas chamar atenção para a necessidade de se incentivar os camponeses a apostar noutras culturas com potencialidades de melhores colheitas, em regimes de sequeiro e – de regadio, no cultivo do melão, melancia, limão, laranja, maracujá, entre outros, produtos que se adaptam com facilidades ao clima da ilha.

Pecuária: A pecuária assumiu no passado uma importância acrescida para a ilha do Fogo. Era através dela que os habitantes obtinham a carne, o leite, couros e sebo. A carne e o leite eram fundamentais para a dieta alimentar dos habitantes, já o couro e o sebo tinham valor comercial. Em Santiago fora criado uma pequena indústria de couros que recebia peles vindos do Fogo e do Maio. De entre as raças animais que melhor se desenvolveu na ilha, destaca-se a caprina e a cavalar. Embora, sem dados estatísticos recentes, estima-se que, a ilha tem actualmente, cerca de 120 mil crias, aproximadamente 20 por cento do efectivo pecuário nacional, logo após Santiago e, bem á frente de Santo Antão, pelo que, podemos afirmar que, Fogo tem condições excepcionais para o desenvolvimento da pecuária, em especial a caprinocultura. Na vertente cavalar, reza a história que, muitos foram os cavalos do Fogo exportados para a antiga metrópole e costa africana. As condições naturais e a forte procura de cavalos fez com que a sua criação assumisse uma grande importância na ilha e, não é por acaso que, ainda hoje, as gentes do Fogo, tem um forte apego ao cavalo e às provas de perícia dos seus cavaleiros.

O surgimento recente de pequenos negócios ligados á comercialização de carnes, leite e seus derivados poderá abrir o caminho para a dinamização deste sector com forte potencial para o desenvolvimento socioeconómico da ilha, com a sua organização e adopção de tecnologias que possam contribuir para o incremento da produtividade dos rebanhos. A aposta feita nos últimos anos na melhoria da raça tem permitido aumentar a produtividade, facto que está motivando várias pessoas a enveredar pelo sector, já com alguma visibilidade, sobretudo, na venda de gado às outras ilhas. O surgimento de uma unidade de transformação de produtos da pecuária e a proliferação de queijarias familiares que produzem queijos de boa qualidade para o mercado interno e as outras ilhas, são provas evidentes da competitividade do sector. A entrada em funcionamento da fábrica de produção de ração, promete vir a ter um papel preponderante nessa caminhada.

Pescas: Estima-se que a potencialidade dos recursos haliêuticos exploráveis da ilha do Fogo situa-se entre 5.000 a 6.000 toneladas/ano, mas como se pratica uma pesca artesanal, com ultrapassada tecnologia e sem equipamentos modernos, não havendo fábrica de processamento do peixe a nível da ilha, faz com que a média de captura ronda cerca de 400 toneladas/ano, menos de 10 por cento do potencial existente. Os cerca de 400 cidadãos que se dedicam à pesca utilizam embarcações [os chamados botes] de boca aberta com menos de 6 metros de comprimento. Das espécies mais capturadas destaca-se a garoupa, serra, atum, cavala, chicharro, forcado bem como a lagosta, entre outros mariscos, das quais deliciosos pratos são confeccionados. Com o desaparecimento do projecto FOPESCA, a economia foguense saiu a perder. Há que repensar a pesca na ilha do Fogo. As autarquías devem ter essa aspiração nas suas agendas, pois é das poucas actividades que decerto contribuirá imediatamente para o acesso ao emprego e combate á pobreza.

5. Turismo uma aposta com futuro
Além dos três pilares tradicionais – agricultura, pecuária e pesca – vemos o turismo como sendo um sector com potencialidades evidentes de desenvolvimento. Além de incrementar a renda familiar, ele possibilita o resgate da cultura local e a valorização dos produtos típicos. Esse sector da economia tem o poder de sensibilizar a comunidade a identificar novas e rentáveis áreas de produção. Do leque de actividades não-agrícolas no meio rural, o turismo e o artesanato têm potencialidades extraordinárias para a diversificação produtiva e aumento de renda das famílias. Ainda que seja um elemento novo e por desenvolver no panorama económico foguense, o turismo pode ser considerado uma actividade relevante na busca de melhores condições de vida para as populações, as quais, devem diversificar suas formas de obtenção de renda.

São Filipe é uma cidade aprazível, limpa, muito acolhedora e com charme. As festividades do 1º de Maio que, anteriormente não tinham expressão, são hoje das mais importantes de Cabo Verde; a baía de Salinas a que se juntam as praias de areia negra com lindos corais e algas marinhas, para mergulho à superfície e a grandes profundidades são uma raridade, daí preciosos. Santa Catarina do Fogo, onde se encontra o vulcão – imponente, tanto pela sua dimensão como pela sua beleza é sem dúvida a maior atracção turística da ilha. A extensão de terra que vai da bordeira à entrada Chã das Caldeiras até Monte Velha e a sua floresta são de uma beleza que se encanta a qualquer ser humano. Uma olhadela desde o alto do Espigão, em dias de céu azul, desde o mar até ao cume do vulcão, é de se tirar o chapéu. Mosteiros, de entre muitas actividades, tem, além do aromático café, fruteiras diversas e uma gastronomia fabulosa, onde-se destaca djagacida e doçarias várias, bem como o nóvel e biológico vinho “Sodade” que veio fazer companhia ao já conhecido “Chã”, criando particularidades próprias para o turismo, especialmente o ecológico.

As actividades associadas ao turismo, como por exemplo, a hotelaria, a restauração, a comercialização de produtos locais – queijos, doces, liquores, etc – e, a difusão da gastronomia típica, assim como o artesanato, entre outras tarefas de lazer, associadas ao estilo de vida naturalista e saudável, podem servir como estratégia geradora de rendimento, influenciando nos âmbitos económico, social, ambiental e tecnológico, daí que, é preciso a conjugação de vontades dos governos central e local para a disponibilização de recursos financeiros e capacitação humana, para se fazer do Fogo, parte integrante do circuito turístico nacional que se quer sustentável e potenciador de mais-valias para as camadas mais pobres da população.

A procura crescendo durante as festas de Nhô São Filipe, demostra que o turismo na ilha do Fogo tem futuro e que, os governantes, bem como a sociedade cívil, precisam, entre outras acções de :
*Identificar e conceber novos produtos turísticos que associam a riqueza cultural com a natural;
*Melhorar o nível de formação das pessoas envolvidas na área do turismo;
*Capacitar o associativismo;
*Desenvolver experiências e boas práticas com provas dadas a nível nacional e internacional;
*Promover uma oferta turística sustentável e de qualidade.

6. As infraestruturas que demoram a chegar
A ilha do Fogo, apesar das suas reconhecidas potencialidades económicas, figura entre as menos infraestruturadas do País. Face ao ritmo de construção de infra-estruturas de qualidade nas ilhas de Santiago, São Vicente, Boa Vista, Sal e São Vicente, o Fogo vem perdendo a pouca competitividade que detinha, situação bastante desgastante mesmo a nível político-partidário. Não esqueçamos que a construção do Porto Grande em São Vicente, foi o primeiro marco do declínio da economia foguense, passando São Filipe à categoria de terceira urbe do País, na altura—hoje ela é, talvez a quinta [sem se contar as recém promovidas cidades por decreto]. Acredita-se que, o facto das infraestruturas públicas para o Fogo chegarem sempre atrasadas e em qualidade inferior, quando comparada com as dos seus concorrentes, tem contribuido negativamente para o desenvolvimento da ilha.

Vejamos a realidade:
*O porto e o aeroporto não respondem às efectivas demandas do desenvolvimento da ilha;
*A taxa de electrificação é ainda baixa e não existem redes de esgotos na ilha;
*Não existem grandes infraestruturas de retenção da água pluvial, apesar da tradicional construção de cisternas, ter dado sinais incontestáveis que devia ser uma aposta contínua;
*Os furos são em número ireduzidos e na sua grande maioria nas orlas marítimas, exigindo bombagens a custos elevados para as regiões mais altas, tornando a água escassa e cara, não tendo Chã das Caldeiras, antiga fonte e hoje importante atrativo turistico da ilha acesso a este precioso líquido;
*As estradas existentes são de má qualidade, de trajecto difícil e muitas zonas com potencialidades agrícolas e turísticas continuam por desencravar;
*Os sectores económicos são subdesenvolvidos e desintegrados, logo com pouca complementaridade;
*Os investimentos públicos são limitados ou nunca chegam, os privados quase inexistentes, contribuindo para o debilitado desenvolvimento económico da ilha, apesar das potencialidades que se lhe reconhece.

7. Projectos estruturantes precisa-se
Para-se colmatar as deficiências acima apontadas e criar um ambiente propício ao desenvolvimento económico-social, com especial ênfase no investimento directo estrangeiro [bem com investimentos dos filhos da ilha espalhados pelo globo], urge construir um porto de médio porte, um aeroporto internacional, modernos serviços de água e energia bem como redes de estradas da terceira geração á semelhança das demais ilhas, pois, assim, o Fogo certamente virá a ter um tecido empresarial com expressividade na esfera nacional, visto que, capacidade empreendedora não falta aos foguenses. Deve-se ter também em conta a valorização do vulcão, um dos mais distintos pontos dessas ilhas no Atlântico Médio.

Transportes modernos facilitam o contacto com o mundo exterior, possibilitando a circulação de pessoas e bens com reflexos positivos na actividade económica, na melhoria das condições de vida da população e no acolhimento de turistas. O aumento da procura por produtos agrícolas no Sal e na Boavista, com a retoma do turismo no período pós-crise, nos obriga a reclamar por ligação aérea e marítima regular entre Fogo e as ilhas do Norte, onde os preços são mais elevados em comparação com Santiago, até agora o principal mercado.

Uma outra forte aposta deve ser na água — factor determinante para o desenvolvimento da agricultura, da pecuária, do turismo, com efeito positivo na dieta alimentar das populações, na expansão do comércio, potencializando o surgimento de uma rede logística e nova dinâmica na movimentação portuária e aeroportuária de e para a ilha.

Antes de terminar, queria ainda afirmar que – o desenvolvimento de Cabo Verde deve ser pensado como um conjuntoDjarfogo não pode, nem deve ficar para trás e, todos os seus filhos, independentemente do credo político, devem fazer lobbies e buscar novas formas de pressionar a quem de direito pa – odja pa Fogo, pois isso, terá elevado valor económico-social, para o todo - Nacional!.

Abril de 2010.

Sunday, May 30, 2010

SERÁ A INDÚSTRIA MICE PORTADORA DO ELEVADO VALOR ACRESCENTADO QUE SE FALA PARA O TURISMO NACIONAL?

Diz-se que é a nossa principal indústria – o motor de desenvolvimento do arquipélago – promete-se lhe Elevado Valor Acrescentado (EVA), entretanto atribui-se a ele uma reduzida atenção/verba: “apenas 0.8% no orçamento de 2009, que financiou os seguintes projectos: um observatório do turismo, um sistema de informação para a recolha de dados sobre os estabelecimentos e as actividades, o desenvolvimento de uma marca turística para o país, bem como outras iniciativas para diversificar e melhorar o turismo”, conforme o último relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Será possível fazer tudo isso com tão diminuto orçamento, a ponto de se atingir EVA ? Eis a questão !?!

Na sua recente entrevista [diga-se, uma dos melhores que já li sobre este sector nos últimos anos], o jóvem Director Geral do Turismo, Carlos Pires Ferreira, prometeu, entre outros :
*Um turismo sustentável e de alto valor acrescentado, com o envolvimento das comunidades locais, quer no processo produtivo, quer também no acesso aos benefícios;
*Um turismo que deverá ter em conta as dez ilhas de Cabo Verde, ou seja, aproveitar ao máximo as potencialidades de cada recurso e transformá-los em produtos de excelência e autênticos, numa complementaridade entre elas, ressaltando as riquezas de cada uma;
*Agregar ao “sol e praia” outras valências, tais como a indústria M.I.C.E., o turismo rural e de natureza, o ecoturismo, o turismo cultural, entre outros, diversificando a oferta, por forma a inentivar maior procura, e sobretudo de qualidade, satisfazendo as aspirações de "clientes" cada vez mais exigentes e interessados em conhecer o "Cabo Verde profundo".
Os três pontos acima elencados parece-nos resumir de forma objectiva os ideais daquele responsável pelo turismo em CV.

Relativamente ao primeiro ponto, queria apenas mencionar que, se o turismo representa cerca de 20% do PIB, a atribuição de apenas 0.8% do bolo orçamental para o sector não é razoável...nem se consegue vislumbrar como se consegue com escassos recursos alcançar o EVA que muito se almeja para o nosso turismo...

Quanto ao segundo ponto, nota-se um convergir de ideias, com o que vem sendo defendido pela sociedade civil nas ilhas ‘ditas abandonadas’: Fogo, Santo Antão, São Nicolau e Brava, onde muito pouco tem sido feito para a promoção do turismo e atracção de Investimento Directo Estrangeiro (IDE), apesar das vastas potencialidades existentes. Reconhecemos a boa vontade do actual executivo, mas é preciso, despir a camisola político-partidária e dizer aquilo que vem escrito no relatório do FMI : “embora o país tenha feito progressos em termos de expansão de estradas e portos, de transporte e distribuição de electricidade, o principal obstáculo para o desenvolvimento da sua economia é a má qualidade das infra-estruturas de uma ilha para outra e, em cada ilha”, principalmente, nas quatro acima apontadas.

No que se refere ao terceiro ponto, revemo-nos nas ideias do DGT, aliás, em tempos já tinhamos escrito algo nesse fio de pensamento, afirmando que CV precisa diversificar/melhorar a sua oferta turistica e pôr fim a esse olhar enviesado que é atribuido a certas ilhas. Entretanto e, como ao que parece, o governo decidiu-se associar a essa oferta turística algo novo – a tal indústria MICE (Meetings, Incentives, Conferences and Exhibitions) – ou seja, um acrônimo para a organização de – Reuniões, Incentivos, Conferências e Exposições. Os terrmos são de fácil entendimento, talvez, com a excepção dos ‘Incentivos’. Pois, o turismo de incentivo é geralmente uma espécie de recompensa que se atribui a um empregado/funcionário da empresa ou instituição pelas metas alcançadas [ou ultrapassadas], ou por um trabalho exemplar que desenvolveu, com o fim último de incentivar as viagens.

A indústria MICE é conhecida por sua extensa programação e exigente clientela e, segundo estimativas, um viajante MICE gasta cerca de 3 vezes mais do que um viajante de lazer regular. MICE por envolver várias vertentes, incluindo infraestruturas de convenção e exibição, serviços de viagens, de alojamento e transportes, de tradução/interpretação, organização de eventos, restauração, marketing, relações públicas, entretenimento, etc., poderá trazer enormes benefícios económicos ao país, contribuindo para o combate ao desemprego, mas será que já fazemos os necessários TPC ?

Estamos realmente preparados para competir com destinos já experimentados nessa matéria, dos quais temos que destacar: Singapura, Paris, Bruxelas, Viena, Barcelona, Tóquio, Seoul, Budapest, Copenhagen, London [os 10 principias receptores de reuniões internacionais] ?

Mesmo a nível da nossa subregião, será que somos competitivos ?

Onde estão as infraestruturas, particularmente na nossa capital ?

A título de exemplo, segue uma breve resenha de Macau (podia perfeitamente falar de Hong Kong, Singapura, Tailândia ou Japão), uma terrinha [hoje com os seus cerca de 29,5 km2, inicialmente com apenas 16 km2] que desde o Século XVI recebe viajantes e negociantes do Oriente e do Ocidente, transformando-se numa das portas de entrada para a China e que, há poucos anos decidiu enveredar pela indústria MICE.

Desde a transferência da soberania à República Popular da China em 1999, o governo local vem realizando importantes reformas a nivel das infraestruturas básicas e vem promovendo, para além do turismo cultural, assente no seu legado histórico [de matriz portuguesa e chinesa] e que, foi considerado Património Mundial da UNESCO em 2005, onde se destacam: igrejas, fortalezas, templos budistas, museus e diversos festivais de gastronomia e de música acrescido de actividades turísticas e desportivas de nível mundial: o Grande Prémio de Macau, a Maratona Internacional de Macau, o Concurso Internacional de Fogo de Artifício, a Feira Internacional de Macau, a Feira Internacional de Arte de Macau, o Festival da Lusofonia, por um lado, bem como modernos hotéis casinos, que servem não só para os jogos, uma vertente em que Macau é já líder mundial, mas também de suporte para a indústria MICE, por outro.

A região conta hoje com insfraestruturas invejáveis para o o desenvolvimento dos MICE. A maior delas está situada no Venetian Resort, composta por um pavilhão com capacidade para 15.000 lugares, um complexo com 25.000 m2 de área para reuniões e uma galeria para exposições com 74.682 m2 de superfície.

Além desta existe ainda outras importantes infraestruturas de suporte à industria MICE no território, p.f. ver :
*Centros de Conferências e Exposições(http://industry.macautourism.gov.mo/pt/page/content.php?page_id=72)
*Hotéis com infra-estruturas(http://www.macautourism.gov.mo/pt/meeting/facilitiesdetail.php?type=46)
*Outros locais de encontro (http://www.macautourism.gov.mo/pt/meeting/facilitiesdetail.php?type=47


Este conjunto de infraestruturas faz de Macau um dos maiores detentores de espaço para convenções e exposições de toda a Ásia. Outrossim, a estabilidade social, o melhoramento das condições de segurança após o retorno de Macau à China, a optimização constante das infraestruturas de transportes terrestres [(público e privado vários), marítimos (3 três terminais de nível superior) e aéreos (1 aeroporto internacional e 1 heliporto) que permitem ligação rápida da cidade ao mundo] e a captação de oportunidades pelos serviços públicos do turismo para a promoção de Macau na China continental e nas diversas feiras e exposições mundiais, para além de atrairem turistas a viajarem para Macau têm tido um efeito indutor para o desenvolvimento dos MICE.

Quanto às estatisticas do sector das convenções e exposições em Macau deixo ao leitor o link seguinte:

http://www.dsec.gov.mo/getAttachment/a7f95aef-0066-4393-bb8bc208dd2e30ae/P_ESCE_FR_2010_Q1.aspx

Para finalizar, queria tão somente lembrar que MICE é uma indústria de futuro, cujas características são essencialmente: alto/elevado/superior, no que ao valor/potencialidades/emprego/articulação/qualidade/ambiente, se refere, pelo que, perguntamos, que indústria MICE para Cabo Verde ? Quais as estratégias ? Que vantagens ? Onde estão os recursos financeiros e humanos ? É mais uma questão de discursos ou será mesmo o EVA que se quer para o nosso turismo ?

Maio de 2010

Friday, April 2, 2010

Pico do Fogo, 15 Anos depois - o que mudou ?

Hoje, 2 de Abril de 2010, assinala-se o 15º aniversário da última erupção vulcânica no pico do Fogo. Conforme o períodico Asemana, a data vai ser lembrada com actividades desportivas e culturais, entre as quais, jogos de futebol, guerra de galos e bodes, demonstração de capoeira e apresentação teatral. A data, a nosso ver, merece ser recordada com pompas e circunstâncias – mas no sentido de dar graças a Deus, por toda a população ter se escapado do infortúnio sã e salvo, por um lado, e com o objectivo de reflectir sobre a questão da segurança em caso de catástrofes naturais na ilha do Fogo.

É do conhecimento geral que, a última erupção representou um enorme prejuízo para os proprietários, em especial os que tem na agricultura o seu ganha-pão que, viram larga maioria dos seus terrenos, cobertos por lavas e, durante vários dias, as suas famílias espalhadas por várias localidades, voltando a se reencontrar nas tendas montadas no então aeródromo de São Filipe. Entretanto, ela não foi a pior erupção que a ilha do Fogo já conheceu. Contam nos os mais idosos que, a catástrofe de 1951, devorou as localidades de Tinteira e Cova Matinho e, parte de Estância Roque, tendo as lavas desembocadas no mar, depois de ceifar algumas vidas. Na altura, ainda sob a administração colonial, diga-se, portuguesa, tivemos o surgimento do povoado de Roçadas. Todavia, também sabemos que se à data, a mudança das populações afectadas, para a nova aldeia, erguida numa zona que oferecia garantías em termos de segurança, a qual recebeu o nome do então Governador— Roçadas (ver placa afixada na primeira casa erguida na nova localidade), foi um um relativo sucesso, embora, algumas poucas famílias (em especial as de Estância Roque) afectadas, depois de algum tempo, regressaram aos seus povoados de origem, mas a larga maioria permaneceu na nova localidade, contrariamente ao que aconteceu aquando da última erupção, em que, foram construídas dezenas de moradias para os desalojados de Chã das Caldeiras, em Achada Furna e Monte Grande, mas essas casas nunca foram ocupadas, pois os contemplados teimaram em voltar às suas antigas residências, no sopé do vulcão.

Porém, se há uma década e meia, as autoridades se interrogavam até que ponto a erupção iria ter influência na vida das populações (?), o que seria da Chã das Caldeiras—um dos pontos turísticos mais importantes de Cabo Verde depois das erupções (?) quais seriam as consequências da erupção no povoamento e na fauna agrícola da ilha (?), entre outras questões, passado 15 anos e, poucas semanas depois de um grande incêndio florestal ter devorado uma larga área de terrenos a poucos kilómetros do pico do Fogo, notamos que, as autoridades (parecem, ainda), não reconhecer que a questão de segurança/protecção cívil na ilha do Fogo, deve ser prioridade das prioridades, pelo que, a título preventivo, devem ser promovidas acções de reflexão sobre o tema—mas em especial, em datas destas (não aguardar para lamentar depois da desgraça bater a porta), por sermos filhos de um vulcão (ainda) activo.

Mantenhas!

Saturday, March 27, 2010

O TURISMO, A FRACA CAPACIDADE DE OFERTA E O OLHAR ENVIESADO À ILHA DO FOGO

Li, algures num dos períodicos online que, a ONG Italiana – Cooperação para o Desenvolvimento dos Países Emergentes (COSPE) – promoveu, recentemente em São Filipe, um encontro relativo ao turismo e a valorização dos produtos e serviços locais. Considerando que a diversificação dos produtos turísticos é factor essencial para se erguer um destino competitivo, o desenvolvimento do (eco)turismo na ilha do Fogo é sem dúvida um activo importante para Cabo Verde. Sem conhecer o programa do evento e, muito menos o discurso que cada orador proferiu durante o mesmo, ocorreram me á mente essas ideias que, aqui, compartilho convosco.

Chama-se turismo – ao rol de actividades que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e outros. É algo do nosso dia-a-dia, pois somos ilhas de vocação essencialmente turísticas – Cabo Verde!

1. O turismo : o ano de 2009, foi a nível global marcado por uma acentuada queda na procura turística durante o primeiro semestre e pequenos ganhos no segundo. Cabo Verde enquanto pequeno País insular, importador de quase tudo (a venda dos serviços turísticos é uma excepção) não passou isento à crise que assolou tudo e todos, sendo que, até o final do ano passado [conforme os dados do INE] as dormidas nos estabelecimentos hoteleiros cresceram 10,6 % (cerca de 2,2 milhões), tendo sido registados cerca de 330.319 hóspedes (em 2008 recebemos mais de 385.000 turístas, pelo que houve queda). Quanto à origem dos turistas, o Reino Unido tornou-se no principal mercado emissor com 25,6%, seguido da Alemanha com 15,2%, da Itália com 14,4% e de Portugal com 12,0%. Os visitantes provenientes do Reino Unido foram também os que tiveram maior permanência (média de 8,9 noites) em Cabo Verde, seguidos pelos da Alemanha (7,5 noites) e da Holanda (7,2). Quanto à taxa média de ocupação, foi de 45% - a ilha da Boavista passou a ser a mais procurada (69%), à frente do Sal (47%), Santiago (26%) e Santo Antão (21%).

2. A oferta turística – refere-se ao conjunto dos recursos naturais e culturais [oferta diferencial (original) ou seja: os atractivos turísticos] que, em sua essência, constituem a matéria prima da actividade turística porque, na realidade, são eles que provocam a afluência de turistas. A esse conjunto agregam-se os serviços produzidos para dar consistência ao seu consumo, os quais compõem os elementos que integram a oferta no seu sentido lato – numa estrutura de mercado – [oferta técnica (agregada) ou seja: os equipamentos e serviços turísticos + infra-estrutura de apoio].

Atendendo ao enunciado acima e, apesar dos sucessivos governos terem assumido o turismo como motor da economia, por um lado, e o País apresentar potencialidades para o desenvolvimento desse sector, por outro, continuamos a não saber valorizar os nossos activos e, temos ainda uma oferta turística (relativamente) pobre, essencialmente balnear – sol e praia – vejamos a ocupação das unidades hoteleiras nas ilhas de Boa Vista e Sal em 2009!

Somos, entretanto, 10 ilhas e vários ilhêus, das quais 3 planas e as demais montanhosas (umas mais, outras menos) demonstrando que, temos ainda um vasto potencial por explorar (ainda bem) nomeadamente: nas ilha do Sal, Boa Vista e Maio [Turismo Balnear]; nas ilhas de São Nicolau, Boavista e Santiago acrescido às primeiras [Turismo Náutico];no Fogo e Santo Antão acrescido às do segundo grupo [Turismo Ecológico]; em agrupamento de municípios de cada ilha/região [Turismo de Circuitos ]; e em cada um dos 22 municípios [Turismo Cultural]. Mas para se ter turismo é preciso ter não só atracções turísticas, embora representam a principal motivação para a visita (sejam elas naturais, históricos e monumentais, culturais, folclóricos) mas também fornecedores de serviços turísticos (alojamento, transporte, restauração, bares, teatros, instalações desportivas, etc.), bem como infra-estruturas (as componentes físicas necessárias – pública ou privada –– para o desenvolvimento da actividade turística – por exemplo, rede de estradas, portos, aeroportos, etc, criando assim um ambiente propício à chegada daqueles que desejam nos visitar.

Não obstante sabermos que, o turismo possui algumas características especiais: sendo um produto de consumo local, estimula o desenvolvimento de outras actividades económicas (entretenimento, comércio, transportes, meios de hospedagem, agências de viagens, artesanato, serviços de apoio); potencializa o desenvolvimento de infra-estruturas (estradas, aeroportos, saneamento, energia etc.); depende da sustentabilidade cultural e ambiental e, tem forte efeito indutor na geração de renda e emprego, o turismo cabo-verdiano, permanece longe de propiciar essas conquistas, pois, nos faltam infraestruturas e a capacidade de valorização da nossa oferta. Estamos ainda numa fase embrionária e – à excepção de alguns atractivos naturais em cada ilha, pouco conseguimos agregar ao que a natureza nos deu, para oferecer aos turistas um produto de qualidade e, quiçá seja por isso que, as receitas do turismo revertem na sua maioria a favor de operadores turisticos estrangeiros (diga-se, portugueses, espanhóis, italianos, ingleses) baseado num conceito ‘all inclusive’ onde as despesas com a habitação, alimentação, transporte, recreação, cultura, desportos, etc, são geralmente pagas na europa.

3. Fogo : Apesar de ser a quarta ilha do arquipélago e de ser detentora de um vasto potencial em termos turísticos — gente afável – cultura única – natureza espectacular, entre a cratera do vulcão e o pico lunar e as paisagens verdes das plantações de fruteiras – gastronomia simpática – um leque variado de edifícios históricos e manifestações folclóricas, continua a não ocupar o lugar que merece (por razões várias) no contexto nacional, recebendo em périplos de ocasião um olhar enviesado de quem de direito. Neste sentido, a dinâmica da COSPE é reconhecida pelos foguenses como posítiva, pois, contrariamente à actuação ineficiente dos dirigentes [local e nacional], tem tido ideias e vai dando passos seguros para a afirmação da ilha, em especial de Chã das Caldeiras – uma aldeia erguida no sopé de um vulcão (ainda) activo – no melhor atractivo turístico nacional, permitindo valorizar produtos local como: vinho; queijo; café, entre outros, e, bem assim o Parque Natural, onde existem espécies várias que, embelezam a paisagem, permitindo o surgimento de um produto turístico de excelência.

Djarfogo lá do alto do seu Vulcão agradece, pois, afinal – “uma longa caminhada começa por um passo”!

Saturday, March 13, 2010

As inaugurações "tchapa-tchapa" – as obras estruturantes que nunca chegam e – o sim ou não quanto ao asfalto em Chã das Caldeiras

1.Entre Fevereiro e Março do corrente ano, o Primeiro Ministro de Cabo Verde, Dr. José Maria Neves, esteve na ilha do Fogo, para inaugurar 3 obras : a) a primeira unidade incineradora [já deixou de funcionar] de lixo a ser instalada no País, uma iniciativa da Câmara Municipal liderada por Eugénio Veiga (São Filipe); b) o piso de relva sintética do estádio Municipal de Futebol, Francisco José Rodrigues, iniciativa da Câmara Municipal sob a liderança de Fernandinho Teixeira (Mosteiros); e c) a Gare Marítima e Edifício Administrativo do porto de Vale dos Cavaleiros na ilha do Fogo. Nessas deslocações, o Senhor Primeiro Ministro, esteve acompanhado, entre outros, pelo Ministro de Estado e das Infra-estruturas, Transportes e Telecomunicações, Eng. Manuel Inocêncio Sousa e do Ministro Adjunto e da Juventude e Desportos, Dr. Sidónio Monteiro. Os filhos de Djarfogo, tanto nas ilhas como na diáspora, fica(ra)m muito felizes com a inauguração dessas obras. Entretanto, surgiram vozes contrárias, perguntando, qual o motivo para o esbanjamento de recurso [em deslocações da máquina governamental para inaugurar obras “tchapa –tchapa”] em tão curto período de tempo na ilha do Fogo(?), apontando que se «... o Auto de Consignação da Obra decorreu no dia 30 de Julho de 2008 e que a obra teve a duração total de 15 meses, tendo sido feita a recepção provisória no passado mês de Janeiro de 2010» então porque não foi também inaugurada em Fevereiro, juntamente com as duas primeiras ?

2. O abandono a que a ilha do Fogo foi remetida durantes esses 20 anos de vivência democrática no arquipélago, tem sido também alvo de várias críticas, entretanto, a [grande] dúvida que paira no ar é, será que esse abandono não está intrínsecamente ligado à tendência de votos da população (?), por um lado, e a passividade dos políticos da ilha, por outro (?). É sobejamente conhecido que as gentes de Djarfogo, tanto nas ilhas como na diáspora, sempre votaram PAI nas eleições e, os Deputados à casa parlamentar, bem como as presidências das autarquias do Fogo, têm uma actuação abaixo da média nacional e, muito raras vezes fazem se ouvir na Capital do País. Não será por isso que, as aspirações da população do Fogo em ter um aeroporto moderno, um porto moderno [não tem que se situar em Vale dos Cavaleiros, onde a própria natureza tem nos dado sinal de que a escolha foi/é errada], uma rede viária da terceira geração (como gosta o PM de lhes apelidar) nunca se materializa (?). E vão mais além, afirmando que, se durante a Administração Portuguesa, conseguiu-se erguer várias pontes em «Ribeira Nha Lena»; «Baleia»; «Ponte Senhor Rendhal»; «Ponte Tábua», entre outros, nas sucessivas ribeiras existentes entre as localidades de Tinteira e Relvas, permitindo ligação entre os Concelhos de Santa Catarina do Fogo [Sede em Cova Figueira] e dos Mosteiros [Sede na Vila de Igreja] – porquê que o actual governo resolve cortar a meio esta importante parte do prometido anel rodoviário/circular do Fogo ? Será que os projectos para a ilha do Fogo, são feitos na base "tchapa-tchapa" para se poder inflacionar o número das inaugurações e enganar a população (?) ou porque o troço que liga esses dois municípios foguenses não dispõe de potencialidades eco-turísticas que merecem ser valorizadas à semelhança do que se faz em Santiago ou nas demais ilhas ?

3.O pedido de estrada asfaltada pelas populações de Chã das Caldeiras, não parace ter caído no agrado de muitos. Reconhece-se que a protecção ambiental é importante. Mas questiona-se, o porquê de se ter permitido, durante muitos anos, distruir montes, vales e praias de Djarfogo, numa procura desenfreada pelos inertes (diga-se, jorras, areias e pedras) para a construção, e não se permite a asfaltagem de um pequeno troço de estradas dentro da bordeira, trazendo comodidade e facilitando a circulação das pessoas (?) mesmo sabendo que, o asfalto pouco ou nada alterará na vertente paisagística do local. Defendamos o ambiente, não permitamos a asfaltagem, mas devemos também, apresentar soluções cómodas em substituição do pedramento [que seja calcetamento, broquetes ou outro] lá existente, satisfazendo as exigências da população, pois Chã das Caldeiras, merece! Ddeixamos estas palavrinhas para reflexão: «O Monte Fuji (Fuji san - como respeitosamente é chamado pelos japoneses) — está para o Japão assim como a Torre Eiffel para Paris, a Estátua da Liberdade para Nova York e tantos outros símbolos que ajudam a divulgar turísticamente uma cidade ou um País e a servirem de logotipo de um destino. Um símbolo! O Monte Fuji é assim, o símbolo de uma nação, mas além de tudo, é um símbolo natural, um deus para os japoneses. Não é apenas uma belíssima montanha, é o ponto mais alto do País do sol nascente [à semelhança do Vulcão do Fogo], meio mítico, meio divinal. Para se ter uma idéia, há pouco mais de 100 anos era considerado sagrado e somente os monges podiam ir ao seu topo. Hoje é visitado por mais de 300.000 turistas, entre 1 de Julho e 31 de Agosto, período que o clima assim permite. Ver o sol nascer do seu cume, diz-se que proporciona saúde e felicidade, e todos os japoneses o farão, pelo menos uma vez na vida. Uma escalada feita por trilhas, divididas em 10 estágios. Os montanhistas partem do quinto estágio, ao qual se chega de carro, demonstrando que a modernidade nos sistemas de transporte, pode nos ajudar a chegar perto dos deuses». Para mais infos sobre a modernidade e a tradição, p.f. ver :http://interata.squarespace.com/jornal-de-viagem/?h=356&w=500&sz=50&hl=en&start=3¤tPage=21

Thursday, March 4, 2010

A minha Pátria é uma montanha

A minha Pátria é uma montanha
Olímpica, tamanha!
Do seio azul do Atlântico brotada
E aos astros com vigor arrernessada
Pelo braço potente do Criador,
Sobranceia cem léguas em redor.

E tão alta que acima do seu cume
Só o plaustro de Apolo coruscante,
Só o bando estelar de águias de lume
E a mente ousada de um Camões ou Dante!
Como é formosa
E majestosa
A minha amada
Terra natal!

Quer do Sol sob a clâmide doirada,
Quer da Lua sob a lúcida cambraia,
é tão formosa que não tem rival!

Além das nuvens alevantada,
O bravo Oceano a seus pés desmaia!

Para a gloria do mando fê-la Deus
Altiva e forte, generosa e brava:

Assim foram outrora os filhos seus!

Se lhe palpita o coração robusto,
Em derredor tudo estremece logo:

Pálida e fria de pavor a Brava,
E, em ânsias, Santiago e o Maio adusto.
Fala... e as palavras fluem em torrentes
De lavas rugidoras e candentes...

Na verdade, escutai! — chama-se Fogo!

Quando vier, Pátria amada,
A morte p'ra me levar,
Deixa-me a fronte cansada
Em teu seio repousar!

Por Pedro Cardoso

Monday, February 22, 2010

Promoção do empreendedorismo – a grande contribuição das autarquias – para quando ??

"O negócio é uma das formas mais poderosas de criação de riqueza e oportunidade para ajudar a tirar as pessoas da pobreza", diz Peter Blair Henry – o jovem emigrante Jamaicano que ascendeu recentemente ao cargo de Reitor da Stern School of Business (New York University).

Empreendedor é o termo utilizado para qualificar, ou especificar aquele indivíduo que possui uma forma especial, inovadora, de se dedicar às actividades de organização, administração e execução; principalmente na transformação de conhecimentos e bens em novos produtos (mercadorias ou serviços) geradores de riqueza. No cenário económico cabo-verdiano é geralmente conhecido por - empreendedor – kel ki ta investi e fazê progredir sê negócio ku suor de sê testa!

Se uma pessoa tiver capacidade empreendedora, tem também probabilidade de suceder no mundo dos negócios, particularmente, nos pequenos negócios — um dos garantes de sobrevivência em muitas sociedades. Mas, a verdade é que, os negócios exigem um pouco mais do que simples talento empreendedor. Por exemplo, precisamos de conhecimentos específicos que o talento empreendedor não possui por si só. Para se ser empreendedor, é preciso balancear três aspectos importantes: mental, profissional e económico. O primeiro, autoconfiança e a adopção de atitudes e valores culturais favoráveis à iniciativa de empreender (sentido de responsabilidade, de risco, de iniciativa). O segundo, a capacidade de identificar oportunidades, de realizar cálculos estratégicos e de planificar intervenções tendo em conta os riscos e as vantagens, acrescido da capacidade de liderança e de mobilização de equipas. E o terceiro, o ambiente macroeconómico que facilita o acesso aos recursos para a realização do acto de empreender, em complementaridade ao rol dos factores básicos necessários para se levar avante a propensão de empreender.

É certo que a vontade para ultrapassar os obstáculos da vida tem levado os cabo-verdianos, em especial os foguenses, na ilha e não só, a enveredar pela prática do empreendedorismo, por via de actividades e projectos práticos – esses têm sido, as formas de promover o espírito empreendedor e as competências ligadas ao empreendedorismo, por um lado, e tem contribuido de forma directa ou indirecta para a sobrevivência de uma boa faixa da população da ilha, por outro.

Para promover o crescimento económico e o desenvolvimento social, as nossas autarquias devem ter a capacidade de orientar a população, particularmente aqueles com a sensibilidade pelo mundo dos negócios – promovendo o empreendedorismo – abrindo janelas para o escoamento dos produtos da ilha. Se ao agricultor/pastor exigimos o eficiente cultivo da terra/criação do gado, produzindo "abóbora grande" e "bodéco gordo", às autarquias solicitamos a criação de condições que permitam a instalação e desenvolvimento de actividades económicas nos municípios, passando desde logo, pelo apoio às iniciativas de criação de pequenos negócios. Neste sentido, devem as autarquias em parceria com as agências/associações nacionais (mas não só) vocacionadas por essa matéria, urgir com a criação de Gabinetes de Apoio ao Empresariado na ilha, pois será certamente um sinal positivo para aqueles que pensam enveredar pelo empreendedorismo, olhando para os municípios como local atractivo para transacionar os produtos - gerando riqueza e contribuindo para o combate à pobreza.

Em específico, pretende-se que as autarquias incluam nos respectivos planos de desenvolvimento (programas de actividades) a promoção de uma cultura empreendedora, traduzida pelo desenvolvimento de projectos de iniciativa privada, devidamente enquadrados no contexto de desenvolvimento local e com potencialidades de se traduzirem em resultados tangíveis em favor da sociedade.

Empreendedorismo nos municípios pressupõe uma acção coordenada e incentivadora, devendo ter como objectivo o contínuo desenvolvimento de competências-chave e do espírito empreendedor junto das comunidades residentes, baseado nas acções seguintes:

1. Disponibilização de apoio, formação, sensibilização e acompanhamento às comunidades para o desenvolvimento de projectos que tem como meta a melhoria das suas condições de vida;

2. Utilização de metodologias e estratégias de desenvolvimento de competências do empreendedorismo e de promoção de uma cultura empreendedora ao nível local.

3. Estabelecimento de parcerias entre os sectores público e privado, potenciadores do crescimento económico e subsequente desenvolvimento social, bem como para o fortalecimento dos laços que unem as famílias, o empresariado e toda a comunidade.

4. No final de cada mandato, deve a autarquia provar ao eleitorado, ter capacitado os cidadãos com competências-chave para empreender ao longo da vida, tornando-os em dinamizadores de acção empresarial benéfica para o meio em que vivem, libertando assim o poder local do fardo assistencialista – paternalista vigente na ilha do Fogo.

O desenvolvimento local, hoje mais do que nunca, exige de todos nós maior dinamismo, inovação e criatividade – na descoberta do melhor caminho para avançar!

Friday, February 5, 2010

Djarfogo: O Binómio Educação/Pobreza

"Se os teus projectos forem para um ano, semeia o grão. Se forem para dez anos, planta uma árvore. Se forem para cem anos, instrui o povo." (Provérbio chinês)


A pobreza, a alteração climática e a crise financeira, foram temas de debates durante a 40ª edição do Fórum Económico Mundial, que teve início no dia 26/1, em Davos/Suiça.


Os temas, todos eles interessantes — entretanto, aqui, de forma sucinta, vou-me reflectir apenas sobre um deles – a pobreza, pois considero que o combate a esse mal que assola cerca de 30% da população caboverdiana e cerca de metade dos foguenses deve continuar a ser o ponto 1 da agenda dos nossos governantes, tanto a nível local e nacional.


Neste textozito, não vou apontar quais os ganhos que o País obteve nestes quase 35 anos enquanto república. Vou sim, enveredar pelo binómio educação/pobreza, mas de forma superficial. Para me situar, faço uso das palavras do Bill Clinton (ex-Pesidente dos EUA) ao Fórum de Davos — “...a educação e a formação é o caminho prioritário e essencial para sair da pobreza...”, do Shimon Peres (Presidente do Israel) — “... não são os bolsos que enriquecem o nosso cérebro, é o cérebro que enriquece os nossos bolsos...” e bem assim do Timothy Berner-Lee (Drector da World Wide Web Consortium) — “...nos Países em Desenvolvimento, o acesso à internet ainda é um privilégio, sendo usada por apenas 20 % da população mundial... ” – eu acrescentaria que destes 20%, uma significativa fatia são os governantes, que não poucas vezes passam parte do seu tempo à frente do computador a jogar “solitário”!


Pois bem, em Janeiro último vi escrito algures na Página Oficial do Governo de Cabo Verde que, teve lugar na minha/nossa ilha do Fogo — a inauguração, nos Concelhos de São Filipe, Mosteiros e Santa Catarina, do Sistema de Informação Municipal (SIM) e das praças digitais de São Filipe e Mosteiros, presumo que a de Santa Catarina (também anunciada), ficou por inaugurar — quicá numa outra data, possívelmente.


Sem rodeios, digo vos — à semelhança de muitos filhos, nas ilhas e/ou na diáspora, fiquei maravilhado com a notícia, aliás aqueles que me conhecem mínimamente conseguem imaginar qual é o meu estado de espírito ao escutar notícias dessa natureza para Cabo Verde em geral, mas em especial quando se refere à ilha do vulcão. Entretanto, fiquei a pensar — até que ponto a chegada do SIM e das praças digitais vão colocar a ilha do Fogo em pé de igualdade com as demais (?), por um lado, e apoiar no combate à pobreza (??), por outro. Com optimismo e apoiando as boas práticas em todas as ilhas/concelhos — a verdade é que, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), por si só, não chegam para a promoção do desenvolvimento da ilha do Fogo — sendo que, o atraso de Djarfogo é de natureza complexa — passando pelo elevado déficit de infraestruturas físicas, fraca cultura de inovação, atitudes de gestão mal adaptadas à realidade económica local, frouxo posicionamento dos políticos locais, lacunas em matéria de qualificação e de formação, entre outros factores.


Reconheço que, o recurso às TICs poderá permitir encurtar o tempo, facilitar o diálogo com as demais Partes, promover a eficiência e eficácia dos utentes camarários e não só, mas sem um forte investimento na educação, a população continuará de bolsos vazios, pelo que, ainda que venhamos a ter praças digitais em todos os povoados, a maioria dos filhos da ilha não colherá os seus frutos!


A ilha do Fogo precisa de portos, de aeroportos e de estradas modernas, da promoção do empreendedorismo, do reforço à componente turística, da valorização do património local, da promoção de actividades rurais, mas mais ainda, precisa de investir na formação dos seus filhos – pois, este sim, é um investimento de longo prazo. Porém, a disponibilização de infra-estruturas, embora importantes, não basta – existe necessidade de traduzi-las em aplicações e serviços – estes sim geradores de riqueza – contribuindo para a redução da pobreza e da exclusão social.


A todos os foguenses um Feliz Ano do Tigre!

Introducing Cape Verde

Most people only know Cape Verde through the haunting mornas (mournful songs) of Cesária Évora. To visit her homeland – a series of unlikely volcanic islands some 500km off the coast of Senegal – is to understand the strange, bittersweet amalgam of West African rhythms and mournful Portuguese melodies that shape her music.

It’s not just open ocean that separates Cape Verde from the rest of West Africa. Cool currents, for example, keep temperatures moderate, and a stable political and economic system help support West Africa’s highest standard of living. The population, who represent varying degrees of African and Portuguese heritage, will seem exuberantly warm if you fly in straight from, say, Britain, but refreshingly low-key if you arrive from Lagos or Dakar.

Hot Top Picks For Cape Verde

1 Mt Fogo
Huff to the top of this stunning, cinder-clad mountain, the country’s only active volcano and, at 2829m, its highest peak.

2 Mardi Gras
Down quantities of grogue, the rumlike national drink, and dive into the colour and chaos in Mindelo.

3 Santo Antão
Hike over the pine-clad ridge of the island, then down into its spectacular canyons and verdant valleys.

4 Windsurfing
Head to the beaches of Boa Vista, and fill your sail with the same transatlantic winds that pushed Columbus to the New World.

5 Traditional music
Watch musicians wave loved ones goodbye with a morna or welcome them back with a coladeira.

6 Cidade Velha
Becomes Cape Verde's first World Heritage site in June 2009.
The town of Ribeira Grande de Santiago, renamed Cidade Velha (Old Town) in the late 18th century, was the first European colonial outpost in the tropics.
Located in the south of the island of Santiago, the town features some of the original street layout impressive remains including two churches, a royal fortress and Pillory square with its ornate 16th century marble pillar.