1. Descobrimento e povoamento
Inicialmente chamava-se São Filipe, tendo mais tarde mudado de nome, provavelmente, por causa do seu vulcão [ainda activo] – e do qual também ganhou o formato, sendo o topo deste –e ponto mais alto de Cabo Verde, com 2829 metros. Diz-se que a ilha foi descoberta em Maio de 1460, juntamente com Maio e Santiago, e foi a segunda do arquipélago a ser povoada, logo a seguir a Santiago, de quem dista 50 quilómetros. Alguns anos depois de ter sido descoberta, Fogo ganhou grande importância na economia cabo-verdiana. O algodão ali plantado passara a ser a moeda de troca na compra de escravos na costa africana, numa altura em que só era possível obtê-los com mercadorias originárias das ilhas, conforme a carta régia de 1466. Entretanto, devido às constantes secas que desde sempre assolaram o Fogo, muitos habitantes optaram por emigrar, especialmente entre os séculos XVIII e XIX, aproveitando da passagem dos baleeiros norte-americanos pelos portos de Cabo Verde, para viajarem para os Estados Unidos da América, onde havia forte procura de mão-de-obra.
2. Área territorial e administração local
Sendo a quarta maior ilha de Cabo Verde em termos de área territorial, Fogo tem 477 km2, albergando cerca de 40.000 habitantes. A cidade de São Filipe, conta com aproximadamente 1/5 da população da ilha que, está dividida em três municípios: São Filipe (as freguesias de São Lourenço e Nossa Senhora da Conceição), Santa Catarina do Fogo (freguesia com o mesmo nome) e Mosteiros (freguesia de Nossa Senhora da Ajuda).
3. Alguns produtos de referência : vinho e café
Entre os produtos de renome, podemos destacar o café e o vinho – antes, o tradicional “Manecom” – hoje “Chã” e “Sodade”, produzidos nas localidades de Chã das Caldeiras (Santa Catarina) e Achada Grande (Mosteiros), respectivamente, sendo a primeira, situada no sopé do vulcão, contando com cerca de 600 habitantes que, dedicam essencialmente à agricultura e à pecuária. Em Achada Grande, o cultivo de vinhas é básicamente inexistente, embora o solo aparenta ser adequado para tal, pelo que, a uva usada na produção do “Sodade” é também ela, proveniente dos arredores do pico do Fogo. O café é essencialmente proveniente dos Mosteiros—concelho a norte da ilha, com cerca de ¼ da população foguense.
4. Agricultura, pecuária e pescas – os três pilares tradicionais
Agricultura : É de se referir que, devido a curta estação das chuvas, entre os meses de Agosto a Outubro – a escassez de água, tem sido o maior constrangimento para a agricultura foguense. Porém, se costuma haver secas, que não permitem as sementeiras, também algumas foram as vezes em que ocorreu a destruição das culturas devido a chuvas torrenciais. O que não é estranho, uma vez que a situação geográfica da ilha a isso conduz. A agricultura a nível do sequeiro, baseada no empirismo dos antigos hábitos de culturas combinadas – do milho, do feijão, da abóbora, etc – e, no tradicionalismo da enxada, em culturas com padrões variados ao longo da ilha, constitui um factor de bloqueio. A nível do regadio, uma prática relativamente recente, encontramos algumas hortaliças e fruteiras, mas ainda longe de atingir a modernidade. Um outro factor restritivo é a falta de sementes de boa qualidade a baixo preço, o que influencia o resultado das colheitas. Pode-se falar ainda, da falta de infraestruturas para acomulação de águas em anos de forte pluviosidade, como outro empecilho à prática agrícola. No entanto, a agricultura continua a ser a principal actividade económica da ilha, tendo o cultivo de algodão feito história a nível nacional e na metrópole, em tempos que já lá vão. O solo e o clima da ilha eram considerados de tal modo propícios para esta cultura que, relatos da época referem que, quando regado, faziam-se 2 colheitas/ano. Este era levado para Santiago, em bruto, e ali era limpo e depois comercializado. Podia ser vendido como matéria-prima ou em forma de panos, dando surgimento à tecelagem na ilha do vulcão. Recordando isso, queria apenas chamar atenção para a necessidade de se incentivar os camponeses a apostar noutras culturas com potencialidades de melhores colheitas, em regimes de sequeiro e – de regadio, no cultivo do melão, melancia, limão, laranja, maracujá, entre outros, produtos que se adaptam com facilidades ao clima da ilha.
Pecuária: A pecuária assumiu no passado uma importância acrescida para a ilha do Fogo. Era através dela que os habitantes obtinham a carne, o leite, couros e sebo. A carne e o leite eram fundamentais para a dieta alimentar dos habitantes, já o couro e o sebo tinham valor comercial. Em Santiago fora criado uma pequena indústria de couros que recebia peles vindos do Fogo e do Maio. De entre as raças animais que melhor se desenvolveu na ilha, destaca-se a caprina e a cavalar. Embora, sem dados estatísticos recentes, estima-se que, a ilha tem actualmente, cerca de 120 mil crias, aproximadamente 20 por cento do efectivo pecuário nacional, logo após Santiago e, bem á frente de Santo Antão, pelo que, podemos afirmar que, Fogo tem condições excepcionais para o desenvolvimento da pecuária, em especial a caprinocultura. Na vertente cavalar, reza a história que, muitos foram os cavalos do Fogo exportados para a antiga metrópole e costa africana. As condições naturais e a forte procura de cavalos fez com que a sua criação assumisse uma grande importância na ilha e, não é por acaso que, ainda hoje, as gentes do Fogo, tem um forte apego ao cavalo e às provas de perícia dos seus cavaleiros.
O surgimento recente de pequenos negócios ligados á comercialização de carnes, leite e seus derivados poderá abrir o caminho para a dinamização deste sector com forte potencial para o desenvolvimento socioeconómico da ilha, com a sua organização e adopção de tecnologias que possam contribuir para o incremento da produtividade dos rebanhos. A aposta feita nos últimos anos na melhoria da raça tem permitido aumentar a produtividade, facto que está motivando várias pessoas a enveredar pelo sector, já com alguma visibilidade, sobretudo, na venda de gado às outras ilhas. O surgimento de uma unidade de transformação de produtos da pecuária e a proliferação de queijarias familiares que produzem queijos de boa qualidade para o mercado interno e as outras ilhas, são provas evidentes da competitividade do sector. A entrada em funcionamento da fábrica de produção de ração, promete vir a ter um papel preponderante nessa caminhada.
Pescas: Estima-se que a potencialidade dos recursos haliêuticos exploráveis da ilha do Fogo situa-se entre 5.000 a 6.000 toneladas/ano, mas como se pratica uma pesca artesanal, com ultrapassada tecnologia e sem equipamentos modernos, não havendo fábrica de processamento do peixe a nível da ilha, faz com que a média de captura ronda cerca de 400 toneladas/ano, menos de 10 por cento do potencial existente. Os cerca de 400 cidadãos que se dedicam à pesca utilizam embarcações [os chamados botes] de boca aberta com menos de 6 metros de comprimento. Das espécies mais capturadas destaca-se a garoupa, serra, atum, cavala, chicharro, forcado bem como a lagosta, entre outros mariscos, das quais deliciosos pratos são confeccionados. Com o desaparecimento do projecto FOPESCA, a economia foguense saiu a perder. Há que repensar a pesca na ilha do Fogo. As autarquías devem ter essa aspiração nas suas agendas, pois é das poucas actividades que decerto contribuirá imediatamente para o acesso ao emprego e combate á pobreza.
5. Turismo uma aposta com futuro
Além dos três pilares tradicionais – agricultura, pecuária e pesca – vemos o turismo como sendo um sector com potencialidades evidentes de desenvolvimento. Além de incrementar a renda familiar, ele possibilita o resgate da cultura local e a valorização dos produtos típicos. Esse sector da economia tem o poder de sensibilizar a comunidade a identificar novas e rentáveis áreas de produção. Do leque de actividades não-agrícolas no meio rural, o turismo e o artesanato têm potencialidades extraordinárias para a diversificação produtiva e aumento de renda das famílias. Ainda que seja um elemento novo e por desenvolver no panorama económico foguense, o turismo pode ser considerado uma actividade relevante na busca de melhores condições de vida para as populações, as quais, devem diversificar suas formas de obtenção de renda.
São Filipe é uma cidade aprazível, limpa, muito acolhedora e com charme. As festividades do 1º de Maio que, anteriormente não tinham expressão, são hoje das mais importantes de Cabo Verde; a baía de Salinas a que se juntam as praias de areia negra com lindos corais e algas marinhas, para mergulho à superfície e a grandes profundidades são uma raridade, daí preciosos. Santa Catarina do Fogo, onde se encontra o vulcão – imponente, tanto pela sua dimensão como pela sua beleza é sem dúvida a maior atracção turística da ilha. A extensão de terra que vai da bordeira à entrada Chã das Caldeiras até Monte Velha e a sua floresta são de uma beleza que se encanta a qualquer ser humano. Uma olhadela desde o alto do Espigão, em dias de céu azul, desde o mar até ao cume do vulcão, é de se tirar o chapéu. Mosteiros, de entre muitas actividades, tem, além do aromático café, fruteiras diversas e uma gastronomia fabulosa, onde-se destaca djagacida e doçarias várias, bem como o nóvel e biológico vinho “Sodade” que veio fazer companhia ao já conhecido “Chã”, criando particularidades próprias para o turismo, especialmente o ecológico.
As actividades associadas ao turismo, como por exemplo, a hotelaria, a restauração, a comercialização de produtos locais – queijos, doces, liquores, etc – e, a difusão da gastronomia típica, assim como o artesanato, entre outras tarefas de lazer, associadas ao estilo de vida naturalista e saudável, podem servir como estratégia geradora de rendimento, influenciando nos âmbitos económico, social, ambiental e tecnológico, daí que, é preciso a conjugação de vontades dos governos central e local para a disponibilização de recursos financeiros e capacitação humana, para se fazer do Fogo, parte integrante do circuito turístico nacional que se quer sustentável e potenciador de mais-valias para as camadas mais pobres da população.
A procura crescendo durante as festas de Nhô São Filipe, demostra que o turismo na ilha do Fogo tem futuro e que, os governantes, bem como a sociedade cívil, precisam, entre outras acções de :
*Identificar e conceber novos produtos turísticos que associam a riqueza cultural com a natural;
*Melhorar o nível de formação das pessoas envolvidas na área do turismo;
*Capacitar o associativismo;
*Desenvolver experiências e boas práticas com provas dadas a nível nacional e internacional;
*Promover uma oferta turística sustentável e de qualidade.
6. As infraestruturas que demoram a chegar
A ilha do Fogo, apesar das suas reconhecidas potencialidades económicas, figura entre as menos infraestruturadas do País. Face ao ritmo de construção de infra-estruturas de qualidade nas ilhas de Santiago, São Vicente, Boa Vista, Sal e São Vicente, o Fogo vem perdendo a pouca competitividade que detinha, situação bastante desgastante mesmo a nível político-partidário. Não esqueçamos que a construção do Porto Grande em São Vicente, foi o primeiro marco do declínio da economia foguense, passando São Filipe à categoria de terceira urbe do País, na altura—hoje ela é, talvez a quinta [sem se contar as recém promovidas cidades por decreto]. Acredita-se que, o facto das infraestruturas públicas para o Fogo chegarem sempre atrasadas e em qualidade inferior, quando comparada com as dos seus concorrentes, tem contribuido negativamente para o desenvolvimento da ilha.
Vejamos a realidade:
*O porto e o aeroporto não respondem às efectivas demandas do desenvolvimento da ilha;
*A taxa de electrificação é ainda baixa e não existem redes de esgotos na ilha;
*Não existem grandes infraestruturas de retenção da água pluvial, apesar da tradicional construção de cisternas, ter dado sinais incontestáveis que devia ser uma aposta contínua;
*Os furos são em número ireduzidos e na sua grande maioria nas orlas marítimas, exigindo bombagens a custos elevados para as regiões mais altas, tornando a água escassa e cara, não tendo Chã das Caldeiras, antiga fonte e hoje importante atrativo turistico da ilha acesso a este precioso líquido;
*As estradas existentes são de má qualidade, de trajecto difícil e muitas zonas com potencialidades agrícolas e turísticas continuam por desencravar;
*Os sectores económicos são subdesenvolvidos e desintegrados, logo com pouca complementaridade;
*Os investimentos públicos são limitados ou nunca chegam, os privados quase inexistentes, contribuindo para o debilitado desenvolvimento económico da ilha, apesar das potencialidades que se lhe reconhece.
7. Projectos estruturantes precisa-se
Para-se colmatar as deficiências acima apontadas e criar um ambiente propício ao desenvolvimento económico-social, com especial ênfase no investimento directo estrangeiro [bem com investimentos dos filhos da ilha espalhados pelo globo], urge construir um porto de médio porte, um aeroporto internacional, modernos serviços de água e energia bem como redes de estradas da terceira geração á semelhança das demais ilhas, pois, assim, o Fogo certamente virá a ter um tecido empresarial com expressividade na esfera nacional, visto que, capacidade empreendedora não falta aos foguenses. Deve-se ter também em conta a valorização do vulcão, um dos mais distintos pontos dessas ilhas no Atlântico Médio.
Transportes modernos facilitam o contacto com o mundo exterior, possibilitando a circulação de pessoas e bens com reflexos positivos na actividade económica, na melhoria das condições de vida da população e no acolhimento de turistas. O aumento da procura por produtos agrícolas no Sal e na Boavista, com a retoma do turismo no período pós-crise, nos obriga a reclamar por ligação aérea e marítima regular entre Fogo e as ilhas do Norte, onde os preços são mais elevados em comparação com Santiago, até agora o principal mercado.
Uma outra forte aposta deve ser na água — factor determinante para o desenvolvimento da agricultura, da pecuária, do turismo, com efeito positivo na dieta alimentar das populações, na expansão do comércio, potencializando o surgimento de uma rede logística e nova dinâmica na movimentação portuária e aeroportuária de e para a ilha.
Antes de terminar, queria ainda afirmar que – o desenvolvimento de Cabo Verde deve ser pensado como um conjunto — Djarfogo não pode, nem deve ficar para trás e, todos os seus filhos, independentemente do credo político, devem fazer lobbies e buscar novas formas de pressionar a quem de direito pa – odja pa Fogo, pois isso, terá elevado valor económico-social, para o todo - Nacional!.
Abril de 2010.