Monday, February 16, 2009

Ilha do Fogo: Será o Cultivo da Purgueira e da Mamona o Caminho para o Sucesso ?

Não sendo especialista nesta matéria, decidimos entretanto, socializar com os demais, algumas simples reflexões sobre o desenvolvimento da agricultura na ilha que nos viu nascer. Neste texto, não vamos analisar de forma aprofundada a questão da agricultura tradicional foguense, vamos sim, tentar apontar algumas direcções, bem como consciencializar a população sobre as novas oportunidades que despontam no horizonte, que entretanto, só serão úteis se os actores políticos locais souberem ser imaginativos/dinâmicos e apresentarem propostas reais às autoridades centrais (e aos parceiros externos) com a urgência que o assunto merece, para o bem de todos, em especial dos mais pobres/carenciados.

Todos sabemos que as principais actividades económicas de Djarfogo são a agricultura e a pecuária. Nos bons anos agrícolas consegue se fazer duas colheitas, em localidades, como Chã das Caldeiras, sendo uma durante a época das chuvas e outra lá para os meados de Março/Abril. Entre os escombros das grandes massas de lavas e nas encostas inclinadas daquela região encontra-se a plantação vinícola do Fogo. Enquanto que, em Monte Losna, Montinho e Penedo Rachado cultiva-se macieira, romãzeira, marmeleiro e outras, que cobrem cerca de 50% da área cultivada nos arredores do Pico do Fogo. Os restantes 50% repartem-se entre as culturas do milho, feijão, batata doce, mandioca, para mencionar somente alguns. Paralelamente à agricultura existe uma actividade complementar – a pecuária – que fornece às famílias não só um rendimento suplementar, mas também estrume para fertilizar os solos agrícolas; peles; carne; leite e transporte. Nos Mosteiros, a cultura do café, apresenta excelentes condições de expansão e montagem de uma unidade industrial de torrefação. Além destas actividades existe uma outra que vem ganhando cada vez maior espaço na economia local – a produção de vinho, com três marcas em crescimento evidente, e que já se tornou numa referência de Chã das Caldeiras, da ilha do Fogo e de Cabo Verde.

As vantagens de uma estratégia de desenvolvimento rural que priorize a promoção da agricultura deve ser vista pelos governantes, como linha mestra para o nosso desenvolvimento. Todas as nações consideradas desenvolvidas fizeram uma clara opção pela agricultura, particularmente a agricultura familiar. A pioneira foi a Dinamarca, ainda no final do Séc. XVIII. A última foi o Japão. A mesma opção foi feita por algumas nações, sejam elas as chamadas “tigres” como a Coréia do Sul e Taiwan, seja a China, a India, ou até o caso mais emblemático – a África do Sul, apesar da limitativa disponibilidade de água. Quem nunca experimentou um vinho sul-africano ? Será isso obra do acaso? Porque será que nós continuamos a hesitar ao enfrentamos certas oportunidades (ou muitas vezes nem isso)?

Duas notícias que recentemente veicularam nos períodicos de Cabo Verde, têm vindo a mexer com a minha consciência sobre as potencialidades do sector agrícola da Ilha do Fogo.

A PRIMEIRA, está relacionada com o cultivo da purgueira, que poderá dar um contributo valioso, no abastecimento energético em Cabo Verde, onde o seu início de exploração comercial data do Séc. XIX, e estima-se que pelo menos cerca de 90 mil hectares de terras têm potencialidades para a exploração desta planta.

De acordo com os dados do Ministério da Agricultura, no arquipélago havia, em 1934, uma área aproximada de 9 mil hectares cobertas (10% da área com potencial) com purgueiras, distribuídas, principalmente, pelas ilhas de Santiago, Boavista e Fogo, tendo a sua exploração, assumido um carácter relevante, atingindo em 1944 [74,1%] e em 1949 [83,5%] do total dos produtos agrícolas cabo-verdianos exportados para Europa. No Fogo, o arbusto ocupava extensas zonas áridas e semi-áridas e a semente foi considerada [dinheiro de pobre] durante muito tempo. A purgueira era utilizada no fabrico de óleo que, exportado, se usava na iluminação da metrópole, em substituiçao do azeite de oliveira.

Nos inícios da década de 80, despertou-se novo interesse para a exploração do óleo da purgueira em Cabo Verde, provávelmente por influência de interesses idênticos aos que se despontam neste novo século. Actualmente, vários países, como a Índia (a principal investigadora e produtora mundial de purgueira), Indonésia, Filipinas, África do Sul, Zâmbia, México, Colômbia, Brasil, entre outros, estão a fazer grandes plantações, cabendo a execução às empresas europeias e não só, que vêm na purgueira uma grande oportunidade de negócio, sendo que há já empresas a comercializarem o óleo de purga como bio-combustível.

No Brasil, um país irmão e com o qual temos fortes laços culturais e não só, o governo traçou uma política de fortalecimento do agronegócio na zona rural que tem potencializado a ricinocultura (mamona), não somente para a produção de biodiesel, mas também para a extracção de óleo, do qual se produz adubo orgânico para recuperação de solos esgotados. Outrossim, a fitomassa da cultura da mamona de sequeiro reduz o efeito de estufa, ao retirar sequencialmente do ar o gás carbónico, um dos principais responsáveis pelo aquecimento da terra. Além de que, sua cadeia produtiva abre boas perspectivas para a inovação/produção de produtos naturais – perfumarias, tinturas, vernizes, cosméticos, graxas, óleos para massagens terapêuticas, lubrificantes e gel com propriedades curativas (sabe-se que no passado, era comum a ingestão de óleo de rícino para gases, cólicas, úlceras e eliminação de toxinas), etc.

Quanto a nós, toda a ilha do Fogo, da orla marítima à estrada principal que liga os povoados, ou seja toda a parte baixa, devia receber purgueiras, ao passo que a parte alta da ilha, particularmente os vários montes/elevações sem utilidade para o cultivo de milho, feijão e batata, podiam (deviam) receber rícinos/mamona, bem como a babosa/aloe vera, esta também com uma procura interessante a nível internacional. Porquê que os governos (local e nacional) não financiam pequenos investimentos nesta área e ajuda as mães solteiras, a encontrar uma fonte de rendimento ? Temos ainda o sisal/carapate, particularmente em Santa Catarina (espigão) e nos Mosteiros - não seria interessante incentivar o cultivo e uso desta planta para a produção de artesanato, tapetes e até corda para os barcos – e porque não corda para os animais, que hoje é comercializada no Fogo por 300 escudos/unidade ?

As vantagens do biodiesel, particularmente o combustível limpo produzido com a baga da mamona e/ou semente da purgueira, deve ser vista pelos governantes (nacional e local) como uma ocasião favorável de desenvolvimento integrado da agricultura, no qual as questões sociais, ambientais e económicas da Ilha do Vulção sairão parcialmente solucionados. A oportunidade é única, para se conseguir equalizar parte das nossas desigualdades regionais, contando com a dedicação dos agricultores foguenses para mais esta caminhada.

A SEGUNDA, refere-se ao Plano Regional de Desenvolvimento Agrícola da ilha do Fogo, visando a curto, médio e longo prazos, inverter gradualmente a situação existente e gerir adequadamente as tendências constatadas nos diferentes domínios estratégicos de intervenção. De entre as dificuldades apontadas no documento constam o fraco aproveitamento das potencialidades existentes dos ecossistemas áridos e semi-áridos. As autarquías não podem ficar de braços cruzados perante oportunidades destas. Os vereadores para o sector agropecuário, precisam estar munidos de expertise e assessoria técnica para apontar/apresentar alternativas/direcções/ideias, contribuindo para o enriquecimento dos planos que o poder central pretende para a Ilha.

Urge atrair investimento externo, fomentar a cooperação/articulação entre os sectores governamentais e não governamentais para o planeamento, aplicação e evolução das medidas de promoção da agricultura, bem como campanhas de consciencialização/mobilização das famílias e das comunidades para o desenvolvimento de um sector agrícola em que se faz alocação adequada e eficiente dos recursos.
Todavia, para que isso dê frutos, é preciso a participação/incentivo às células de agricultura comunitária e pequenas empresas – seguido de multiplicação de sementes/plantas, disponibilização de linhas de crédito com juros bonificados, política de preço adequado, assistência técnica [pode ser feita em parceria com países amigos] e, principalmente, da criação de uma consciência da grandeza das oportunidades que se desenham em futuro próximo com a ricinocultura/mamoneira e cultura da jatrofa/purgueira para o Concelho, Ilha e País.

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Introducing Cape Verde

Most people only know Cape Verde through the haunting mornas (mournful songs) of Cesária Évora. To visit her homeland – a series of unlikely volcanic islands some 500km off the coast of Senegal – is to understand the strange, bittersweet amalgam of West African rhythms and mournful Portuguese melodies that shape her music.

It’s not just open ocean that separates Cape Verde from the rest of West Africa. Cool currents, for example, keep temperatures moderate, and a stable political and economic system help support West Africa’s highest standard of living. The population, who represent varying degrees of African and Portuguese heritage, will seem exuberantly warm if you fly in straight from, say, Britain, but refreshingly low-key if you arrive from Lagos or Dakar.

Hot Top Picks For Cape Verde

1 Mt Fogo
Huff to the top of this stunning, cinder-clad mountain, the country’s only active volcano and, at 2829m, its highest peak.

2 Mardi Gras
Down quantities of grogue, the rumlike national drink, and dive into the colour and chaos in Mindelo.

3 Santo Antão
Hike over the pine-clad ridge of the island, then down into its spectacular canyons and verdant valleys.

4 Windsurfing
Head to the beaches of Boa Vista, and fill your sail with the same transatlantic winds that pushed Columbus to the New World.

5 Traditional music
Watch musicians wave loved ones goodbye with a morna or welcome them back with a coladeira.

6 Cidade Velha
Becomes Cape Verde's first World Heritage site in June 2009.
The town of Ribeira Grande de Santiago, renamed Cidade Velha (Old Town) in the late 18th century, was the first European colonial outpost in the tropics.
Located in the south of the island of Santiago, the town features some of the original street layout impressive remains including two churches, a royal fortress and Pillory square with its ornate 16th century marble pillar.