Não sendo especialista nesta matéria, decidimos entretanto, socializar com os demais, algumas simples reflexões sobre o desenvolvimento da agricultura na ilha que nos viu nascer. Neste texto, não vamos analisar de forma aprofundada a questão da agricultura tradicional foguense, vamos sim, tentar apontar algumas direcções, bem como consciencializar a população sobre as novas oportunidades que despontam no horizonte, que entretanto, só serão úteis se os actores políticos locais souberem ser imaginativos/dinâmicos e apresentarem propostas reais às autoridades centrais (e aos parceiros externos) com a urgência que o assunto merece, para o bem de todos, em especial dos mais pobres/carenciados.
Todos sabemos que as principais actividades económicas de Djarfogo são a agricultura e a pecuária. Nos bons anos agrícolas consegue se fazer duas colheitas, em localidades, como Chã das Caldeiras, sendo uma durante a época das chuvas e outra lá para os meados de Março/Abril. Entre os escombros das grandes massas de lavas e nas encostas inclinadas daquela região encontra-se a plantação vinícola do Fogo. Enquanto que, em Monte Losna, Montinho e Penedo Rachado cultiva-se macieira, romãzeira, marmeleiro e outras, que cobrem cerca de 50% da área cultivada nos arredores do Pico do Fogo. Os restantes 50% repartem-se entre as culturas do milho, feijão, batata doce, mandioca, para mencionar somente alguns. Paralelamente à agricultura existe uma actividade complementar – a pecuária – que fornece às famílias não só um rendimento suplementar, mas também estrume para fertilizar os solos agrícolas; peles; carne; leite e transporte. Nos Mosteiros, a cultura do café, apresenta excelentes condições de expansão e montagem de uma unidade industrial de torrefação. Além destas actividades existe uma outra que vem ganhando cada vez maior espaço na economia local – a produção de vinho, com três marcas em crescimento evidente, e que já se tornou numa referência de Chã das Caldeiras, da ilha do Fogo e de Cabo Verde.
As vantagens de uma estratégia de desenvolvimento rural que priorize a promoção da agricultura deve ser vista pelos governantes, como linha mestra para o nosso desenvolvimento. Todas as nações consideradas desenvolvidas fizeram uma clara opção pela agricultura, particularmente a agricultura familiar. A pioneira foi a Dinamarca, ainda no final do Séc. XVIII. A última foi o Japão. A mesma opção foi feita por algumas nações, sejam elas as chamadas “tigres” como a Coréia do Sul e Taiwan, seja a China, a India, ou até o caso mais emblemático – a África do Sul, apesar da limitativa disponibilidade de água. Quem nunca experimentou um vinho sul-africano ? Será isso obra do acaso? Porque será que nós continuamos a hesitar ao enfrentamos certas oportunidades (ou muitas vezes nem isso)?
Duas notícias que recentemente veicularam nos períodicos de Cabo Verde, têm vindo a mexer com a minha consciência sobre as potencialidades do sector agrícola da Ilha do Fogo.
A PRIMEIRA, está relacionada com o cultivo da purgueira, que poderá dar um contributo valioso, no abastecimento energético em Cabo Verde, onde o seu início de exploração comercial data do Séc. XIX, e estima-se que pelo menos cerca de 90 mil hectares de terras têm potencialidades para a exploração desta planta.
De acordo com os dados do Ministério da Agricultura, no arquipélago havia, em 1934, uma área aproximada de 9 mil hectares cobertas (10% da área com potencial) com purgueiras, distribuídas, principalmente, pelas ilhas de Santiago, Boavista e Fogo, tendo a sua exploração, assumido um carácter relevante, atingindo em 1944 [74,1%] e em 1949 [83,5%] do total dos produtos agrícolas cabo-verdianos exportados para Europa. No Fogo, o arbusto ocupava extensas zonas áridas e semi-áridas e a semente foi considerada [dinheiro de pobre] durante muito tempo. A purgueira era utilizada no fabrico de óleo que, exportado, se usava na iluminação da metrópole, em substituiçao do azeite de oliveira.
Nos inícios da década de 80, despertou-se novo interesse para a exploração do óleo da purgueira em Cabo Verde, provávelmente por influência de interesses idênticos aos que se despontam neste novo século. Actualmente, vários países, como a Índia (a principal investigadora e produtora mundial de purgueira), Indonésia, Filipinas, África do Sul, Zâmbia, México, Colômbia, Brasil, entre outros, estão a fazer grandes plantações, cabendo a execução às empresas europeias e não só, que vêm na purgueira uma grande oportunidade de negócio, sendo que há já empresas a comercializarem o óleo de purga como bio-combustível.
No Brasil, um país irmão e com o qual temos fortes laços culturais e não só, o governo traçou uma política de fortalecimento do agronegócio na zona rural que tem potencializado a ricinocultura (mamona), não somente para a produção de biodiesel, mas também para a extracção de óleo, do qual se produz adubo orgânico para recuperação de solos esgotados. Outrossim, a fitomassa da cultura da mamona de sequeiro reduz o efeito de estufa, ao retirar sequencialmente do ar o gás carbónico, um dos principais responsáveis pelo aquecimento da terra. Além de que, sua cadeia produtiva abre boas perspectivas para a inovação/produção de produtos naturais – perfumarias, tinturas, vernizes, cosméticos, graxas, óleos para massagens terapêuticas, lubrificantes e gel com propriedades curativas (sabe-se que no passado, era comum a ingestão de óleo de rícino para gases, cólicas, úlceras e eliminação de toxinas), etc.
Quanto a nós, toda a ilha do Fogo, da orla marítima à estrada principal que liga os povoados, ou seja toda a parte baixa, devia receber purgueiras, ao passo que a parte alta da ilha, particularmente os vários montes/elevações sem utilidade para o cultivo de milho, feijão e batata, podiam (deviam) receber rícinos/mamona, bem como a babosa/aloe vera, esta também com uma procura interessante a nível internacional. Porquê que os governos (local e nacional) não financiam pequenos investimentos nesta área e ajuda as mães solteiras, a encontrar uma fonte de rendimento ? Temos ainda o sisal/carapate, particularmente em Santa Catarina (espigão) e nos Mosteiros - não seria interessante incentivar o cultivo e uso desta planta para a produção de artesanato, tapetes e até corda para os barcos – e porque não corda para os animais, que hoje é comercializada no Fogo por 300 escudos/unidade ?
As vantagens do biodiesel, particularmente o combustível limpo produzido com a baga da mamona e/ou semente da purgueira, deve ser vista pelos governantes (nacional e local) como uma ocasião favorável de desenvolvimento integrado da agricultura, no qual as questões sociais, ambientais e económicas da Ilha do Vulção sairão parcialmente solucionados. A oportunidade é única, para se conseguir equalizar parte das nossas desigualdades regionais, contando com a dedicação dos agricultores foguenses para mais esta caminhada.
A SEGUNDA, refere-se ao Plano Regional de Desenvolvimento Agrícola da ilha do Fogo, visando a curto, médio e longo prazos, inverter gradualmente a situação existente e gerir adequadamente as tendências constatadas nos diferentes domínios estratégicos de intervenção. De entre as dificuldades apontadas no documento constam o fraco aproveitamento das potencialidades existentes dos ecossistemas áridos e semi-áridos. As autarquías não podem ficar de braços cruzados perante oportunidades destas. Os vereadores para o sector agropecuário, precisam estar munidos de expertise e assessoria técnica para apontar/apresentar alternativas/direcções/ideias, contribuindo para o enriquecimento dos planos que o poder central pretende para a Ilha.
Urge atrair investimento externo, fomentar a cooperação/articulação entre os sectores governamentais e não governamentais para o planeamento, aplicação e evolução das medidas de promoção da agricultura, bem como campanhas de consciencialização/mobilização das famílias e das comunidades para o desenvolvimento de um sector agrícola em que se faz alocação adequada e eficiente dos recursos.
Todos sabemos que as principais actividades económicas de Djarfogo são a agricultura e a pecuária. Nos bons anos agrícolas consegue se fazer duas colheitas, em localidades, como Chã das Caldeiras, sendo uma durante a época das chuvas e outra lá para os meados de Março/Abril. Entre os escombros das grandes massas de lavas e nas encostas inclinadas daquela região encontra-se a plantação vinícola do Fogo. Enquanto que, em Monte Losna, Montinho e Penedo Rachado cultiva-se macieira, romãzeira, marmeleiro e outras, que cobrem cerca de 50% da área cultivada nos arredores do Pico do Fogo. Os restantes 50% repartem-se entre as culturas do milho, feijão, batata doce, mandioca, para mencionar somente alguns. Paralelamente à agricultura existe uma actividade complementar – a pecuária – que fornece às famílias não só um rendimento suplementar, mas também estrume para fertilizar os solos agrícolas; peles; carne; leite e transporte. Nos Mosteiros, a cultura do café, apresenta excelentes condições de expansão e montagem de uma unidade industrial de torrefação. Além destas actividades existe uma outra que vem ganhando cada vez maior espaço na economia local – a produção de vinho, com três marcas em crescimento evidente, e que já se tornou numa referência de Chã das Caldeiras, da ilha do Fogo e de Cabo Verde.
As vantagens de uma estratégia de desenvolvimento rural que priorize a promoção da agricultura deve ser vista pelos governantes, como linha mestra para o nosso desenvolvimento. Todas as nações consideradas desenvolvidas fizeram uma clara opção pela agricultura, particularmente a agricultura familiar. A pioneira foi a Dinamarca, ainda no final do Séc. XVIII. A última foi o Japão. A mesma opção foi feita por algumas nações, sejam elas as chamadas “tigres” como a Coréia do Sul e Taiwan, seja a China, a India, ou até o caso mais emblemático – a África do Sul, apesar da limitativa disponibilidade de água. Quem nunca experimentou um vinho sul-africano ? Será isso obra do acaso? Porque será que nós continuamos a hesitar ao enfrentamos certas oportunidades (ou muitas vezes nem isso)?
Duas notícias que recentemente veicularam nos períodicos de Cabo Verde, têm vindo a mexer com a minha consciência sobre as potencialidades do sector agrícola da Ilha do Fogo.
A PRIMEIRA, está relacionada com o cultivo da purgueira, que poderá dar um contributo valioso, no abastecimento energético em Cabo Verde, onde o seu início de exploração comercial data do Séc. XIX, e estima-se que pelo menos cerca de 90 mil hectares de terras têm potencialidades para a exploração desta planta.
De acordo com os dados do Ministério da Agricultura, no arquipélago havia, em 1934, uma área aproximada de 9 mil hectares cobertas (10% da área com potencial) com purgueiras, distribuídas, principalmente, pelas ilhas de Santiago, Boavista e Fogo, tendo a sua exploração, assumido um carácter relevante, atingindo em 1944 [74,1%] e em 1949 [83,5%] do total dos produtos agrícolas cabo-verdianos exportados para Europa. No Fogo, o arbusto ocupava extensas zonas áridas e semi-áridas e a semente foi considerada [dinheiro de pobre] durante muito tempo. A purgueira era utilizada no fabrico de óleo que, exportado, se usava na iluminação da metrópole, em substituiçao do azeite de oliveira.
Nos inícios da década de 80, despertou-se novo interesse para a exploração do óleo da purgueira em Cabo Verde, provávelmente por influência de interesses idênticos aos que se despontam neste novo século. Actualmente, vários países, como a Índia (a principal investigadora e produtora mundial de purgueira), Indonésia, Filipinas, África do Sul, Zâmbia, México, Colômbia, Brasil, entre outros, estão a fazer grandes plantações, cabendo a execução às empresas europeias e não só, que vêm na purgueira uma grande oportunidade de negócio, sendo que há já empresas a comercializarem o óleo de purga como bio-combustível.
No Brasil, um país irmão e com o qual temos fortes laços culturais e não só, o governo traçou uma política de fortalecimento do agronegócio na zona rural que tem potencializado a ricinocultura (mamona), não somente para a produção de biodiesel, mas também para a extracção de óleo, do qual se produz adubo orgânico para recuperação de solos esgotados. Outrossim, a fitomassa da cultura da mamona de sequeiro reduz o efeito de estufa, ao retirar sequencialmente do ar o gás carbónico, um dos principais responsáveis pelo aquecimento da terra. Além de que, sua cadeia produtiva abre boas perspectivas para a inovação/produção de produtos naturais – perfumarias, tinturas, vernizes, cosméticos, graxas, óleos para massagens terapêuticas, lubrificantes e gel com propriedades curativas (sabe-se que no passado, era comum a ingestão de óleo de rícino para gases, cólicas, úlceras e eliminação de toxinas), etc.
Quanto a nós, toda a ilha do Fogo, da orla marítima à estrada principal que liga os povoados, ou seja toda a parte baixa, devia receber purgueiras, ao passo que a parte alta da ilha, particularmente os vários montes/elevações sem utilidade para o cultivo de milho, feijão e batata, podiam (deviam) receber rícinos/mamona, bem como a babosa/aloe vera, esta também com uma procura interessante a nível internacional. Porquê que os governos (local e nacional) não financiam pequenos investimentos nesta área e ajuda as mães solteiras, a encontrar uma fonte de rendimento ? Temos ainda o sisal/carapate, particularmente em Santa Catarina (espigão) e nos Mosteiros - não seria interessante incentivar o cultivo e uso desta planta para a produção de artesanato, tapetes e até corda para os barcos – e porque não corda para os animais, que hoje é comercializada no Fogo por 300 escudos/unidade ?
As vantagens do biodiesel, particularmente o combustível limpo produzido com a baga da mamona e/ou semente da purgueira, deve ser vista pelos governantes (nacional e local) como uma ocasião favorável de desenvolvimento integrado da agricultura, no qual as questões sociais, ambientais e económicas da Ilha do Vulção sairão parcialmente solucionados. A oportunidade é única, para se conseguir equalizar parte das nossas desigualdades regionais, contando com a dedicação dos agricultores foguenses para mais esta caminhada.
A SEGUNDA, refere-se ao Plano Regional de Desenvolvimento Agrícola da ilha do Fogo, visando a curto, médio e longo prazos, inverter gradualmente a situação existente e gerir adequadamente as tendências constatadas nos diferentes domínios estratégicos de intervenção. De entre as dificuldades apontadas no documento constam o fraco aproveitamento das potencialidades existentes dos ecossistemas áridos e semi-áridos. As autarquías não podem ficar de braços cruzados perante oportunidades destas. Os vereadores para o sector agropecuário, precisam estar munidos de expertise e assessoria técnica para apontar/apresentar alternativas/direcções/ideias, contribuindo para o enriquecimento dos planos que o poder central pretende para a Ilha.
Urge atrair investimento externo, fomentar a cooperação/articulação entre os sectores governamentais e não governamentais para o planeamento, aplicação e evolução das medidas de promoção da agricultura, bem como campanhas de consciencialização/mobilização das famílias e das comunidades para o desenvolvimento de um sector agrícola em que se faz alocação adequada e eficiente dos recursos.
Todavia, para que isso dê frutos, é preciso a participação/incentivo às células de agricultura comunitária e pequenas empresas – seguido de multiplicação de sementes/plantas, disponibilização de linhas de crédito com juros bonificados, política de preço adequado, assistência técnica [pode ser feita em parceria com países amigos] e, principalmente, da criação de uma consciência da grandeza das oportunidades que se desenham em futuro próximo com a ricinocultura/mamoneira e cultura da jatrofa/purgueira para o Concelho, Ilha e País.
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