Wednesday, February 4, 2009

Turismo como Complemento às Actividades Tradicionais na Ilha do Fogo

Nos últimos cinco anos, o sector agrícola foguense vem passando por novas dinâmicas. A rega gota-a-gota, impensável (a título privativo/associativo) uma década atrás, devido a fraca organização, bem como dificuldades de acesso ao crédito e know-how, tornou-se uma realidade em muitos povoados e passou a integrar a cadeia produtiva foguense, indo desde a produção de frutas, vegetais etc., contribuindo sobremaneira para a melhoria da dieta alimentar e do rendimento familiar. Todavia, ainda existem populações que vivem na miséria, sendo Santa Catarina do Fogo, o mais pobre município do universo nacional. Pelo que, deve-se olhar para o turismo, como uma actividade indutora de novas ocupações, ou seja, uma alternativa (complementar) à agricultura (extensivo a criação de gados) para a melhoria das condições de vida da população.

Fogo tem ainda um sector produtivo assente na agricultura, no comércio e na construção, actividades essas que mais desempregam e que mais expõem as pessoas à pobreza. A família rural típica de Djarfogo, não deve focalizar os seus esforços exclusivamente em torno da exploração agropecuária. O património familiar que inclui a terra e o gado, mas acima de tudo, a propriedade habitacional (e porque não as viaturas dos emigrantes a depreciar nas garagens ?), deve ser visto como uma base de prestação de serviços, acolhendo visitantes em ocasiões festivas e não só, tornando-se numa alternativa de retorno e garante de melhores dias na velhice. Além disso, devem aspirar a criação de pequenos negócios, como parte de sua estratégia de sobrevivência (maioria dos casos) ou mesmo de acumulação de capital. Em outras palavras, o centro de actividades deve deixar de ser monoactivo, para se tornar pluriactivo, incorporando a agrícultura, a pecuária e a pesca – mas também, o turismo, a indústria caseira, o artesanato, pequenos negócios, etc.

Os pequenos agricultores, se forem bem assessorados, podem tornar-se nos protagonistas para transição a uma economia local sustentável, já que, ao mesmo tempo, podem ser produtores de alimentos, mas também conservadores da biodiversidade e empreendedores/prestadores de serviços.

A agricultura para além de constituir uma forma de ocupação territórial, tem também um papel social e ambiental muito importante. Há que criar condições, para que o espaço rural ganhe nova pujança, dando também relevância às actividades não agrícolas, e fazer com que a população aspire a novos padrões de qualidade de vida.

O poder local deve ser capaz de trazer para o meio rural aspectos relacionados com o lazer, a cultura e o modernismo, contribuindo para a redefinição de percepções convergentes com a urbana.

O turismo é hoje um elemento novo no panorama económico rural, sendo considerado, inclusivé, como uma actividade económica relevante na busca de melhorias nas condições de vida das populações, as quais devem diversificar suas formas de trabalho visando ampliar seus níveis de renda. A ilha do Fogo, por forma a ganhar outra dinâmica e combater a pobreza não deve ficar alheia a esta (nova) estratégia de desenvolvimento. Santa Catarina é onde se encontra o único vulcão ainda não extinto de Cabo Verde e o Pico do Fogo (estando Chã das Caldeiras - um destino turístico por excelência e onde se produz bons vinhos e liquores ao seu pé) tem a maior altitude do País. São Filipe é uma cidade aprazível, limpa e muito acolhedora. Mosteiros, de entre muitas actividades, é onde-se produz um saboroso e aromático café. Esta ilha detém assim particularidades próprias para o turismo, especialmente o turismo ecológico/rural/montanha.

É certo que sistemas de produção e distribuição de energia eléctrica e de água, telecomunicações, rede viária, portos e aeroportos são necessários para que haja energia, fluxo de informação e circulação de pessoas e bens, para o bom funcionamento do mercado. Outrossim, é também preciso a criação de Zonas de Desenvolvimento Turístico (ZDT), abrindo portas ao Investimento Directo Estrangeiro (IDE), garantindo mais e melhor emprego e catapultando a ilha para um patamar superior de desenvolvimento.

O surgimento de novas actividades demanda(rá) um número crescente de pessoas (com conhecimento técnico e visão) para dar sustentação à expansão das actividades turísticas no espaço rural, permitindo que os membros das famílias, liberados das actividades rotineiras da exploração agrícola e pastorícia, possam ocupar as vagas geradas na expansão do turismo no meio rural.

Além de incrementar a renda familiar, o turismo possibilita o resgate da cultura local e a valorização dos produtos típicos. Esse sector da economia tem o poder de sensibilizar a comunidade a identificar novas e rentáveis áreas de produção. Do leque de actividades não-agrícolas no meio rural, o turismo e o artesanato têm potencialidades extraordinárias para a diversificação produtiva e aumento de renda das famílias.

As actividades associadas ao turismo, como por exemplo, a acomodação/hospedagem (residência-hotel), a restauração (pratos típicos), a comercialização de produtos da indústria-caseira (queijos, doces, liquores, etc.,), assim como o artesanato e outras tarefas de lazer, associadas ao estilo de vida rural, podem ser uma estratégia geradora de rendimento (não-agrícola), pondo cobro à queda de rentabilidade da agricultura tradicional. O importante é que as actividades sejam complementares às agrícolas e parte do quotidiano local, ainda que em menor ou maior intensidade.

O turismo apresenta uma interdependência estrutural com os diversos segmentos que compõem o tecido sócio-económico local, sendo por eles influenciado e influenciando-os nos âmbitos político, legal, económico, social, ambiental e tecnológico, daí que é preciso a conjugação de vontades dos governos central e local para a disponibilização de recursos financeiros e capacitação humana, para se fazer do Fogo, parte integrante do circuito turístico nacional, ao mesmo tempo que se combate a pobreza.

Todavia, tal como qualquer outra actividade, o turismo deve ser eregido de acordo com princípios racionais e éticos, que visem a sua sustentabilidade, e atento ás questões seguintes:

1. Os limites de expansão dos projectos turísticos devem ser respeitados, evitando a sobrecarga dos recursos;
2. O desenvolvimento do turismo deve ser dotado de uma política de preservação ambiental e cultural;
3. Deve-se evitar a massificação do número de visitantes, e respeitar a capacidade de resposta da própria comunidade, baseando-se no respeito mútuo homem-natureza, focalizando na oferta de um turismo de qualidade.
4. O produto turístico deve ser lapidado, como algo alternativo (complementar), em que a educação e a sensibilização do visitante-visitado assume papel central;
5. Os promotores, agentes e turistas, são co-responsáveis pela preservação dos recursos, o que implica um esforço educativo fundamental. A educação e formação dos jovens é fundamental;
6. Os destinos turísticos devem ser adequadamente monitorizados, com vista a avaliar o impacto dos turistas sobre os sítios;
7. Políticas de incremento da competitividade (redução de formalidades administrativas, marketing, etc) não devem ser contrárias à proteção ambiental;
8. Deve se selecionar os locais a valorizar, traçando roteiros e evitando a dispersão de investimentos e degradação global de recursos.
9. Deve haver articulação de políticas nas várias esferas do poder (desporto, cultura, transporte, saúde, saneamento, etc), quer a nível central ou local;
10. O turismo não tem que ser essencialmente uma indústria, mas sim uma estratégia de participação da comunidade no seu próprio desenvolvimento.

Para finalizar, queria ainda realçar que o turismo pode funcionar como impulsionador da renda (local), por um lado, e gerador de divisas/requezas (nacional), por outro. A oferta (bem como a procura) turística estão muito aquém do potencial que a ilha possui. Fogo é a ilha de referência para muitos, particularmente os cabo-verdianos residentes na diáspora, que em sí, podem representar um nicho importante de mercado. É de se esperar que em futuro próximo venha a entrar em pleno no roteiro dos investimentos e da actividade turística de Cabo Verde. Oxalá!
Janeiro de 2009

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Introducing Cape Verde

Most people only know Cape Verde through the haunting mornas (mournful songs) of Cesária Évora. To visit her homeland – a series of unlikely volcanic islands some 500km off the coast of Senegal – is to understand the strange, bittersweet amalgam of West African rhythms and mournful Portuguese melodies that shape her music.

It’s not just open ocean that separates Cape Verde from the rest of West Africa. Cool currents, for example, keep temperatures moderate, and a stable political and economic system help support West Africa’s highest standard of living. The population, who represent varying degrees of African and Portuguese heritage, will seem exuberantly warm if you fly in straight from, say, Britain, but refreshingly low-key if you arrive from Lagos or Dakar.

Hot Top Picks For Cape Verde

1 Mt Fogo
Huff to the top of this stunning, cinder-clad mountain, the country’s only active volcano and, at 2829m, its highest peak.

2 Mardi Gras
Down quantities of grogue, the rumlike national drink, and dive into the colour and chaos in Mindelo.

3 Santo Antão
Hike over the pine-clad ridge of the island, then down into its spectacular canyons and verdant valleys.

4 Windsurfing
Head to the beaches of Boa Vista, and fill your sail with the same transatlantic winds that pushed Columbus to the New World.

5 Traditional music
Watch musicians wave loved ones goodbye with a morna or welcome them back with a coladeira.

6 Cidade Velha
Becomes Cape Verde's first World Heritage site in June 2009.
The town of Ribeira Grande de Santiago, renamed Cidade Velha (Old Town) in the late 18th century, was the first European colonial outpost in the tropics.
Located in the south of the island of Santiago, the town features some of the original street layout impressive remains including two churches, a royal fortress and Pillory square with its ornate 16th century marble pillar.