Thursday, April 2, 2009

CONSEQUÊNCIAS GEOGRÁFICAS E RISCOS ASSOCIADOS À ERUPÇÃO DE 1995 NA ILHA DO FOGO

Socializo com os demais, os extratos de um excelente trabalho dos Senhores Ilídio do Amaral (Coordenador), Ezequiel Correia, Fernando Lagos Costa sobre a erupção de 1995 na nossa querida ilha.

Pela presente gostaria de reiterar que, ao pensar em comemorar a data da erupção, devemos acima de tudo reflectir sobre aquele trágico dia, que embora não ceifou vidas, pôs a olho nú as nossas fragilidades enquanto filhos do vulcão.

O trabalho pode ser visualizado na sua totalidade através do link http://www.iict.pt/actividades/213/iict213/iict213_06.htm

«No dia 2 de Abril de 1995 teve início o mais recente episódio da história vulcânica da ilha do Fogo. O Instituto de Investigação Científica Tropical enviou para o local investigadores dos Centros de Geografia e de Geologia, do Departamento de Ciências da Terra (Portugal, presumo eu), que acompanharam a evolução do evento entre 6 e 12 de Abril e prestaram colaboração às autoridades caboverdianas.

Posteriormente, os mesmos investigadores deslocaram-se à ilha do Fogo para novas observações. A equipa do Centro de Geografia dedicou particular atenção às alterações da paisagem natural e da ocupação humana, com levantamento da área atingida, na escala de 1/10 000. As novas formas de relevo e os processos da sua edificação, as modificações macro e micro-climáticas, as consequências no povoamento e nas actividades desenvolvidas pela população na área afectada, constituiram preocupações primordiais. Procedeu, também, à análise de factores e áreas de risco, como contributo para a implementação de medidas de prevenção.

Relata-se a evolução da erupção, as suas características e as alterações provocadas na paisagem da Chã das Caldeiras; consequências sócio-económicas do fenómeno, nomeadamente, no povoamento e na ocupação agrícola deste sector da ilha.

OCUPAÇÃO DO SOLO E ÁREA AFECTADA PELA ERUPÇÃO DE 1995
O facto de a erupção se ter localizado na parte ocidental do Vulcão e de a escoada se ter dirigido para o interior da Chã das Caldeiras, ocupando cerca de 5 km2, afectou sobremaneira a vida nesta área da ilha. Embora não tivesse havido perda de vidas, os prejuízos materiais foram avultados. (...) Destacam-se o desaparecimento de uma aldeia e de importantes áreas agrícolas, a destruição de infraestruturas e equipamentos, e o isolamento dos núcleos mais importantes.(...) Servida apenas por uma via pavimentada que acedia às povoações da Chã pelo sector meridional, a acessibilidade foi drásticamente reduzida logo no primeiro dia, devido à sua interrupção junto dos focos emissores.(...)

A principal área agrícola atingida pelas lavas (...) beneficiando do facto de ser uma depressão fechada e de reter considerável volume de águas pluviais e de escorrência, chegava a proporcionar duas colheitas em anos húmidos. Cerca de 70% desta área está actualmente colmatada por lavas.

As áreas que não foram atingidas pelas lavas não deixaram de sofrer efeitos nefastos, registando-se modificações radicais no metabolismo das plantas provocadas pela presença de gases e pela alteração do estado termo-higrométrico do ar (...).

O tipo de actividade, os produtos vulcânicos emitidos, as condicionantes geomorfológicas e a morfologia resultante da erupção de 1995 na ilha do Fogo, revelam grande similitude com o que foi relatado para a maioria das 26 erupções históricas. De acordo com os fenómenos mais frequentes é possível definir como elementos de risco vulcânico, a reabertura de bocas, a queda de piroclastos, a ocupação por lavas, a emissão de gases tóxicos e a sismicidade. O comportamento de alguns dos elementos de risco encontra-se relacionado com factores geomorfológicos. Os cones activos, a que, por vezes, se associam fracturas ou alinhamento de bocas vulcânicas, apresentam condições naturais preferenciais para a ocorrência de futuras erupções. A área imediatamente mais próxima das bocas eruptivas é a mais afectada pela queda de piroclastos. Os valeiros directamente relacionados com os focos emissores e as áreas mais deprimidas são potencialmente mais propícios para o escoamento e ocupação pelas escoadas de lava.

MORFOLOGIA E ÁREAS DE RISCO NA CHÃ DAS CALDEIRAS
A área da Chã das Caldeiras tem sido a mais assolada pela actividade vulcânica recente. Trata-se de uma depressão apenas aberta, em parte, ao sector oriental da ilha, com um fundo plano, pelo que se encontra facilmente sujeita aos elementos de risco vulcânico mais frequentes: a ocupação por lavas, a queda de materiais piroclásticos ou a invasão por gases tóxicos. Os dois primeiros elementos dependem de factores geomorfológicos a partir dos quais é possível prespectivar um modelo cartográfico de zonagem de risco vulcânico. As áreas de risco de reabertura de bocas, estão associadas a antigos focos. Os arcos de cratera dos cones condicionam o sentido de migração das escoadas e os valeiros, em particular os directamente relacionados com as bocas eruptivas, constituem os canais preferenciais do seu escoamento. As formas de relevo mais vigorosas e os rebordos mais acentuados constituem factores limitantes da progressão das lavas e as áreas mais deprimidas são as mais propícias à sua acumulação.

Durante a erupção de 1995 os sectores setentrional e, sobretudo, oriental da ilha do Fogo, foram os mais atingidos pela queda de cinzas e poeiras. A este facto não terão sido alheias as condições de circulação atmosférica que, acima da camada de inversão típica da estrutura do alíseo, proporcionavam ventos dos quadrantes sul e oeste.

A concentração de gases na camada de mistura raramente atingiu níveis preocupantes para a saúde pública, excepto junto dos focos emissores. As condições atmosféricas propiciavam o desenvolvimento de plumas verticais e a diluição e dispersão dos gases. No entanto, em determinados períodos assistiu-se à formação de densas nuvens de gases junto à superfície da Chã das Caldeiras associadas, não só a uma diminuição da energia de emissão mas, também, a condições atmosféricas que dificultavam a sua ascensão e dispersão.

Procura-se contribuir para o estudo das condições atmosféricas na ilha do Fogo, nomeadamente da direcção e intensidade do vento e das condições de estabillidade atmosférica, ao longo do ano, de forma a avançar na definição de condições de ocorrência de situações de risco e identificação de áreas potencialmente afectadas.

A ONU consagrou a década de 90 aos problemas ambientais e às catástrofes naturais, que têm vindo a afectar cada vez mais o Homem, à medida que ele ocupa regiões sujeitas a maiores riscos naturais. A avaliação e o ordenamento das áreas susceptíveis à ocorrência de certos fenómenos naturais, passíveis de restringir as actividades humanas ou até de lhes provocar danos, podem ser alvo de estudos de geomorfologia aplicada.

No arquipélago de Cabo Verde em geral, as principais limitações naturais são, em grande medida, resultantes de condições climáticas e geomorfológicas. Caso da erosão dos solos provocada pelas chuvas concentradas e intensas a que se associam os declives acentuados e o relevo movimentado. Na ilha do Fogo acrescem ainda os impactos causados pelas erupções vulcânicas. Estes fenómenos têm um peso elevado na economia, pois afectam directamente um dos seus pilares fundamentais, a agricultura.

Discutem-se os factores associados à ocorrência de processos de erosão hídrica em Santiago, sobretudo os que se relacionam com as condições topográficas, litológicas e climáticas. Referem-se as medidas de Conservação de Solos e de Águas, a ocupação do território e as actividades humanas em geral, que favorecem o grau de desenvolvimento daqueles processos.

Numerosos estudos revelam que as grandes erupções vulcânicas, como a do Krakatoa (1883) ou a do Pinatubo (1991), têm efeitos no clima, em particular, na temperatura, devido à interferência dos aerossóis expelidos na recepção da radiação solar. O seu efeito pode verificar-se durante alguns anos e constituir um importante factor de variabilidade interanual.»

Boa leitura!
FM

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Introducing Cape Verde

Most people only know Cape Verde through the haunting mornas (mournful songs) of Cesária Évora. To visit her homeland – a series of unlikely volcanic islands some 500km off the coast of Senegal – is to understand the strange, bittersweet amalgam of West African rhythms and mournful Portuguese melodies that shape her music.

It’s not just open ocean that separates Cape Verde from the rest of West Africa. Cool currents, for example, keep temperatures moderate, and a stable political and economic system help support West Africa’s highest standard of living. The population, who represent varying degrees of African and Portuguese heritage, will seem exuberantly warm if you fly in straight from, say, Britain, but refreshingly low-key if you arrive from Lagos or Dakar.

Hot Top Picks For Cape Verde

1 Mt Fogo
Huff to the top of this stunning, cinder-clad mountain, the country’s only active volcano and, at 2829m, its highest peak.

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Down quantities of grogue, the rumlike national drink, and dive into the colour and chaos in Mindelo.

3 Santo Antão
Hike over the pine-clad ridge of the island, then down into its spectacular canyons and verdant valleys.

4 Windsurfing
Head to the beaches of Boa Vista, and fill your sail with the same transatlantic winds that pushed Columbus to the New World.

5 Traditional music
Watch musicians wave loved ones goodbye with a morna or welcome them back with a coladeira.

6 Cidade Velha
Becomes Cape Verde's first World Heritage site in June 2009.
The town of Ribeira Grande de Santiago, renamed Cidade Velha (Old Town) in the late 18th century, was the first European colonial outpost in the tropics.
Located in the south of the island of Santiago, the town features some of the original street layout impressive remains including two churches, a royal fortress and Pillory square with its ornate 16th century marble pillar.